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Lixo transgênico
"LIXO": foi este o vocábulo
usado por Walter Colli,
presidente da Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), para qualificar
uma norma sobre transgênicos, a
resolução normativa nº 5, que
ele mesmo assinou em 2008. A
norma exigia monitoramento
pós-comercial desses produtos e
pode ser derrubada na sessão da
CTNBio prevista para hoje.
Monitorar produtos transgênicos, segundo a resolução, objetiva detectar possíveis "efeitos
adversos sobre o ambiente ou a
saúde humana e animal". Era um
dos grandes temores na década
passada, quando organismos geneticamente modificados chegaram ao mercado: que pudessem
causar dano ambiental ou à saúde, por introduzirem novas substâncias na cadeia alimentar.
O receio quase se extinguiu,
pois não há comprovação de malefícios à saúde das pessoas. Colli
alega, em aparente acordo com a
maioria da comissão, que os riscos podem ser afastados nos testes de biossegurança que antecedem a concessão da licença. Não
haveria razão para monitorar
produtos indefinidamente.
Se no caso da saúde o acompanhamento parece cair em desuso, o mesmo não se pode dizer de
efeitos ambientais. Na União Europeia, continua a ser obrigatório apresentar um plano de monitoramento pós-comercial para
obter licença de venda de qualquer cultivar transgênico.
No Brasil, a norma está em vigor, mas não é cumprida. Esse
tem sido o padrão regulamentador sobre transgênicos no país.
Sob pressão de adversários dessa
tecnologia e de parte da opinião
pública, a CTNBio cria normas
inócuas, depois revogadas.
O fim do monitoramento, como pleiteia a indústria de alimentos, é justificável. Ao falar
em "lixo", contudo, o presidente
da CTNBio desqualifica o trabalho anterior do órgão e lança suspeita desnecessária sobre a independência da comissão diante
dos interesses da indústria.
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