São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2004

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ONDA GLOBAL

Mais que a superação de uma crise de confiança, a nova fase em que a economia brasileira parece ingressar renova as esperanças de retomada do desenvolvimento. Há bons sinais no ar. É inegável que fatos como a negociação do C-Bond, principal título da dívida externa brasileira, a mais de 100% do seu valor de face e a queda do risco-país para cerca de 400 pontos -o melhor nível desde outubro de 1997- indicam uma significativa mudança no ambiente econômico.
Em tal cenário, no entanto, não é simples discernir onde acaba a euforia e onde começa uma nova etapa da política econômica, na qual o ânimo dos investidores é renovado pelo surgimento de perspectivas de crescimento e não apenas pelo alívio com o fato de o governo Lula não ter promovido uma ruptura com o "statu quo" financeiro.
O sistema econômico global tem sido palco de várias e sucessivas ondas desse tipo. Nos países em desenvolvimento, não é incomum a coincidência entre melhora de indicadores domésticos e recuperação da liquidez nos mercados internacionais. O que a história recente ensina, no entanto, é que a euforia movida a liquidez em geral conduz a negligências na construção dos alicerces para o desenvolvimento sustentável.
Para que os indicadores de melhora financeira afinal se convertam em bases de uma retomada econômica mais consistente, é preciso manter-se atento às bases sempre frágeis das fases de expansão da liquidez mundial -que gira em torno dos ciclos da economia norte-americana.
No atual momento, a desvalorização do dólar e a recuperação da atividade começam a colocar no horizonte uma possível elevação dos juros nos EUA -talvez já no segundo semestre. Seriam os fundamentos do ajuste brasileiro sólidos o suficiente para resistir a um novo ciclo de alta dos juros internacionais?
A fragilidade da ordem comercial internacional é também um fator de limitação que não se deve menosprezar diante da aparente facilidade com que se volta a captar recursos nas praças financeiras externas.
A acumulação de reservas, a manutenção de um ajuste fiscal viável institucional e socialmente, a capacidade de expandir o crédito rumo ao investimento, e não apenas ao consumo, e o amadurecimento do chamado marco regulatório brasileiro são alguns dos obstáculos lembrados pelos observadores mais cautelosos.
Não é a primeira vez que se apresenta a oportunidade de surfar numa onda de liquidez global. Falta ainda ao governo apresentar um bom roteiro para que se complete a transição entre o ajuste que evita a ruptura e a retomada que conduz ao desenvolvimento.



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