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ONDA GLOBAL
Mais que a superação de
uma crise de confiança, a nova fase em que a economia brasileira
parece ingressar renova as esperanças de retomada do desenvolvimento. Há bons sinais no ar. É inegável
que fatos como a negociação do C-Bond, principal título da dívida externa brasileira, a mais de 100% do seu
valor de face e a queda do risco-país
para cerca de 400 pontos -o melhor
nível desde outubro de 1997- indicam uma significativa mudança no
ambiente econômico.
Em tal cenário, no entanto, não é
simples discernir onde acaba a euforia e onde começa uma nova etapa da
política econômica, na qual o ânimo
dos investidores é renovado pelo surgimento de perspectivas de crescimento e não apenas pelo alívio com
o fato de o governo Lula não ter promovido uma ruptura com o "statu
quo" financeiro.
O sistema econômico global tem
sido palco de várias e sucessivas ondas desse tipo. Nos países em desenvolvimento, não é incomum a coincidência entre melhora de indicadores
domésticos e recuperação da liquidez nos mercados internacionais. O
que a história recente ensina, no entanto, é que a euforia movida a liquidez em geral conduz a negligências
na construção dos alicerces para o
desenvolvimento sustentável.
Para que os indicadores de melhora
financeira afinal se convertam em
bases de uma retomada econômica
mais consistente, é preciso manter-se atento às bases sempre frágeis das
fases de expansão da liquidez mundial -que gira em torno dos ciclos
da economia norte-americana.
No atual momento, a desvalorização do dólar e a recuperação da atividade começam a colocar no horizonte uma possível elevação dos juros
nos EUA -talvez já no segundo semestre. Seriam os fundamentos do
ajuste brasileiro sólidos o suficiente
para resistir a um novo ciclo de alta
dos juros internacionais?
A fragilidade da ordem comercial
internacional é também um fator de
limitação que não se deve menosprezar diante da aparente facilidade com
que se volta a captar recursos nas
praças financeiras externas.
A acumulação de reservas, a manutenção de um ajuste fiscal viável institucional e socialmente, a capacidade
de expandir o crédito rumo ao investimento, e não apenas ao consumo, e
o amadurecimento do chamado
marco regulatório brasileiro são alguns dos obstáculos lembrados pelos observadores mais cautelosos.
Não é a primeira vez que se apresenta a oportunidade de surfar numa
onda de liquidez global. Falta ainda
ao governo apresentar um bom roteiro para que se complete a transição entre o ajuste que evita a ruptura
e a retomada que conduz ao desenvolvimento.
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