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O PLANETA VERMELHO
Os astros sempre desafiaram
a imaginação do homem. Das
primeiras observações metódicas
das estrelas, esboçadas pelos babilônios 3.800 anos atrás, às modernas
sondas espaciais, a humanidade
sempre olhou para os céus procurando reconhecer a si mesma.
A diferença entre os antigos e nós é
que o olhar moderno chega mais
longe. As sondas de hoje carregam
câmeras estereoscópicas, microscópios e espectrômetros que podem
muito mais do que o olho nu dos antigos. Em comum, temos com eles a
limitação primordial. Por mais que
venhamos a conhecer o cosmo, sempre haverá questões a que dificilmente poderemos responder.
Para além de um dado horizonte,
que pode ser o do Big Bang, o dos
buracos negros ou o da energia escura, nossos modelos teóricos cessam
de funcionar. Nesse instante, temos
de recorrer, como os antigos, a mitos
para explicar o inexplicável, ou então
temos de nos calar à espera de novas
teorias e de novos dados empíricos
que produzirão mais conhecimento
-e mais dúvidas, muitas das quais
ficarão sem respostas.
Se o espaço sempre deslumbrou o
homem, Marte está entre os corpos
celestes que mais fascínio provocaram. Seu tom vermelho-sanguíneo o
fez ser frequentemente associado à
morte. Os babilônios o chamavam
de Nergal, seu deus da morte e da
pestilência. Para os gregos, era Ares,
o deus das batalhas. Os romanos o
batizaram de Marte, deus da guerra.
Nem a suposta objetividade da
ciência e de seus instrumentos conseguiram romper a aura de encantamento que paira sobre Marte. Ao
contrário, até contribuíram para aumentá-la. Em 1877, o astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli descobriu pequenos sulcos na superfície
do planeta que chamou de "canali"
(canais). O termo foi erroneamente
traduzido para o inglês como "canals" em vez de "channels". No idioma de Shakespeare, "canal" designa
principalmente os canais artificiais
usados em irrigação.
A novidade deu lugar a todo tipo de
especulação. O astrônomo americano Percival Lowell divulgou a crença
de que os canais levavam água derretida dos pólos para irrigar os campos
e abastecer as cidades marcianas.
Ganhava força aí o clichê, que até hoje sobrevive no imaginário popular,
dos homenzinhos verdes de Marte.
Modernamente, sabemos que é virtualmente impossível encontrarmos
hominídeos de qualquer cor em
Marte. Ainda assim, os cientistas
suspeitam seriamente de que o planeta possa abrigar certas formas de
vida. É justamente essa a razão de haver tantos satélites e sondas perscrutando a superfície de Marte em busca
de água e, com sorte, de alguns micróbios. A política, é claro, também
ajuda. De olho na reeleição, o presidente George W. Bush deverá anunciar nesta semana a revisão do programa espacial americano com vistas a uma missão tripulada a Marte
-algo que muitos consideram inviável dado os elevados custos.
Pode parecer pouco encontrar microrganismos naquele planeta, mas
essa já seria uma das descobertas
mais importantes de todos os tempos. Marte, é claro, não oferece condições para que a vida se torne exuberante como na Terra, mas, se ela pôde surgir aqui e lá, parece razoável
acreditar que tenha aparecido também em outros planetas, alguns dos
quais podem possuir ambientes que
favoreçam o surgimento de seres
mais complexos, talvez inteligentes.
O que está em jogo pode ser a resposta a uma das questões fundamentais: descobrir se o homem não
está sozinho no Universo.
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