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RUY CASTRO
O Brasil no chão
RIO DE JANEIRO - Em 2001, a cidade de Goiás (GO) encomendou ao
pintor carioca Leonel Brayner, um
dos últimos praticantes do realismo, uma série de quadros reproduzindo seu fabuloso casario colonial.
Em setembro daquele ano, deu-se
uma exposição de 18 telas no principal museu local, eternizando a memória visual de Goiás.
Três meses depois, no dia 31 de
dezembro, 15 horas de chuva fizeram transbordar o rio que corta a
cidade, recém-reconhecida pela
Unesco como patrimônio da humanidade. A enchente danificou todas
as casas da parte baixa, inclusive a
da poeta Cora Coralina. O desastre
só não foi irreversível porque, graças à conservação das plantas originais das casas e, possivelmente, aos
quadros de Leonel -que capturaram o espírito de Goiás de uma forma que a fotografia não seria capaz-, tudo pôde ser reconstruído
nos anos seguintes. Foi sorte, mas
já tinha havido previdência.
A paulista São Luiz do Paraitinga,
também vítima de enchente no último dia 31, pode não ter sido bafejada pela mesma sorte. A força da
água reduziu a entulho cerca de 300
prédios de sua área histórica e desabrigou quase toda a população. É o
Brasil de barro, tijolo e madeira que
vai ao chão.
O Brasil que desaba sob os deslizamentos de terra e inundações em
Angra dos Reis, na Ilha Grande e na
Baixada Fluminense (RJ), em bairros de São Paulo e, agora, no Rio
Grande do Sul, é de ferro, aço e concreto armado. Mas seus filhos morrem do mesmo jeito, vítimas da ambição e da fúria especuladora e expansionista de governantes e empreiteiros.
Quisera o Brasil que, a exemplo
de Goiás, fúria equivalente, só que
voltada para a previdência e preservação, se manifestasse em cidades
como Paraty (RJ), Ouro Preto (MG)
e outras, antes que o pior aconteça
como em São Luiz do Paraitinga.
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