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São Paulo, terça-feira, 11 de fevereiro de 2003

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SANGRIA LATINA

Na nova (des)ordem financeira mundial foi reservado à América Latina um papel bastante específico: o de ser uma válvula de ajuste para as idiossincrasias dos fluxos financeiros relativos principalmente à economia norte-americana.
Os assim chamados mercados emergentes surgiram no início dos anos 90 devido a um excesso de liquidez nas economias centrais (juros baixos) e à disposição de países periféricos de atrair esses capitais com juros altos, âncoras cambiais, privatização e desregulamentação. O fracasso desse modelo sobreveio em forma de crises sucessivas: México (1994), Ásia (97), Rússia (98), Brasil (99) e Argentina (2001).
Desde meados do ano 2000, a deflação de ativos financeiros e a queda da lucratividade corporativa se abatem sobre a economia norte-americana. Diferentemente do que ocorreu nas crises da periferia, os Estados Unidos têm respondido a essa ameaça ampliando os seus déficits público e externo, o que exige do resto do mundo um esforço para produzir saldos em divisas.
Nesse arranjo, coube à América Latina uma mudança na sua inserção externa. Desde o ano passado, o subcontinente é exportador de capitais. Mas, como não é exportador "estrutural" de capitais ao feitio da Coréia do Sul e da China, o ajuste necessário à produção de saldos é feito, aqui, por meio de recessão, que inibe as importações e reduz o investimento.
Numa acepção dinâmica, o Brasil, por exemplo, exporta capitais através da descapitalização de sua economia. No ano passado, deixaram o país US$ 24 bilhões a título, entre outros tópicos, de remessa de lucros e dividendos.
Livrar-se dessa armadilha que faz o PIB oscilar conforme os ventos externos é, de longe, o principal desafio para a América Latina em geral e para o Brasil em particular. Que não se apague da memória o custo, agora materializado, de anos de política econômica que tanto ofereceu em troca de dólares.


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