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SANGRIA LATINA
Na nova (des)ordem financeira mundial foi reservado à
América Latina um papel bastante
específico: o de ser uma válvula de
ajuste para as idiossincrasias dos fluxos financeiros relativos principalmente à economia norte-americana.
Os assim chamados mercados
emergentes surgiram no início dos
anos 90 devido a um excesso de liquidez nas economias centrais (juros
baixos) e à disposição de países periféricos de atrair esses capitais com
juros altos, âncoras cambiais, privatização e desregulamentação. O fracasso desse modelo sobreveio em
forma de crises sucessivas: México
(1994), Ásia (97), Rússia (98), Brasil
(99) e Argentina (2001).
Desde meados do ano 2000, a deflação de ativos financeiros e a queda
da lucratividade corporativa se abatem sobre a economia norte-americana. Diferentemente do que ocorreu nas crises da periferia, os Estados
Unidos têm respondido a essa ameaça ampliando os seus déficits público e externo, o que exige do resto do
mundo um esforço para produzir
saldos em divisas.
Nesse arranjo, coube à América Latina uma mudança na sua inserção
externa. Desde o ano passado, o subcontinente é exportador de capitais.
Mas, como não é exportador "estrutural" de capitais ao feitio da Coréia
do Sul e da China, o ajuste necessário
à produção de saldos é feito, aqui,
por meio de recessão, que inibe as
importações e reduz o investimento.
Numa acepção dinâmica, o Brasil,
por exemplo, exporta capitais através
da descapitalização de sua economia. No ano passado, deixaram o
país US$ 24 bilhões a título, entre outros tópicos, de remessa de lucros e
dividendos.
Livrar-se dessa armadilha que faz o
PIB oscilar conforme os ventos externos é, de longe, o principal desafio
para a América Latina em geral e para
o Brasil em particular. Que não se
apague da memória o custo, agora
materializado, de anos de política
econômica que tanto ofereceu em
troca de dólares.
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