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E o futuro?
Voltam-se para o passado as tentativas de PT e PSDB de pautar a campanha por comparações de biografias e governos
RETÓRICA inflamada, arroubos verbais, demonstrações de destempero,
provocações, ironias e
xingamentos. A troca de acusações e as cenas de palanque vão
se tornando cada vez mais frequentes no dia a dia da política
neste ano eleitoral.
A cerca de oito meses do pleito,
PT e PSDB elevam o tom e dão
mostras de que o eleitor poderá
se ver no meio de um tiroteio
cerrado. Não se ignora que palavras mais duras e até mesmo
eventuais insultos fazem parte
do jogo político, sobretudo durante os processos eleitorais.
Mas, na grande maioria dos casos, costumam produzir muita
energia e pouca luz -são de pequena ou nenhuma serventia para o cidadão que vai escolher
seus representantes.
"Essa liderança de silicone que
está sendo construída precisa
começar a ser desmascarada",
disse na tribuna o senador tucano Tasso Jereissati (CE), referindo-se à candidata do PT à Presidência, a ministra da Casa Civil,
Dilma Rousseff. "Quando um
partido de oposição não tem o
que propor e não tem discurso,
então eles tentam impedir que o
outro time jogue", ecoou o presidente Lula, recorrendo mais
uma vez à metáfora futebolística.
Sob a superfície do bate-boca e
das frases de efeito, podem-se
discernir duas estratégias de
campanha em curso, já delineadas. O PT, como previsto, mostra-se determinado a cotejar os
dois governos de Fernando Henrique Cardoso com os de Luiz
Inácio Lula da Silva. Os tucanos,
de maneira reativa, procuram
deslocar a comparação para a
biografia dos candidatos -José
Serra contra Dilma: quem é mais
preparado para presidir o país?
Em ambos os casos, a estratégia das candidaturas procura fixar-se no passado, como se os rivais pudessem, apelando ao retrovisor, cada um a sua maneira,
adiar ou contornar a discussão
sobre o futuro. Mesmo levando-se em conta que o período eleitoral, propriamente, não começou,
é o pensamento mais geral dos
postulantes à Presidência sobre
temas de grande interesse nacional que se esquiva do público.
É até compreensível que Serra,
líder nas pesquisas de opinião,
procure reduzir ao mínimo o
tempo de atrito com adversários.
É uma lei das campanhas. Mas a
opção pelo silêncio abre caminho para que ganhe força e visibilidade um tipo pouco esclarecedor de discussão acerca das
conquistas dos últimos anos.
Há um efeito cumulativo nos
ganhos sociais obtidos com as
políticas públicas desde o Plano
Real. O debate tende a se tornar
mais pobre -e falacioso- quando se cristaliza em torno de
quem fez mais isso ou aquilo.
O que importa para o eleitor é a
agenda dos candidatos para o
país. Que políticas seriam mais
adequadas para as áreas de educação e de saúde? A participação
do Estado na economia deve ser
ampliada, como sinaliza o PT, ou
o governo precisa propiciar condições mais favoráveis ao investimento privado, atuando como
guardião das finanças públicas?
São respostas a essas e a outras
muitas questões o que se espera
daqueles que pretendem governar o país nos próximos anos.
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