São Paulo, Quinta-feira, 11 de Março de 1999
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MENOS CESARIANAS

Comparada ao total de partos nos hospitais do sistema público de saúde, a porcentagem de cesarianas registra pela primeira vez nesta década uma queda significativa. No ano passado, 27,7% dos partos foram por cesária, já bem menos que os 32,5% registrados em 1997. São números do Ministério da Saúde, ontem reproduzidos pela Folha.
A tendência, caso prossiga, colocaria o Brasil em patamares mais próximos daqueles reconhecidos internacionalmente como toleráveis. A OMS (Organização Mundial da Saúde) considera normal que as cesarianas ocorram em até 15% dos nascimentos, mas defende que acima dos 7% os prejuízos clínicos passam a ser maiores que os benefícios.
De fato, as cesarianas têm vários inconvenientes. Aumentam os riscos de infecção, hemorragia e danos no sistema urinário e digestivo da parturiente. Devem ser um último recurso, caso o parto natural ponha em risco a segurança da mãe ou da criança.
A queda registrada no curto período de um ano foi estimulada pela decisão do Ministério da Saúde de impor um limite altamente indulgente (40%), a partir do qual passaria a remunerar como parto natural as cesarianas praticadas em hospitais da rede credenciada pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Isso na suposição de que o hospital privilegia a cesária porque, por cada uma delas, recebe R$ 293,84, enquanto pelo parto natural o repasse é menor, especificamente R$ 190,19.
Assim, criou-se no Brasil uma espécie da indústria da cesariana, abastecida pela necessidade de as maternidades aumentarem suas receitas e, ao mesmo tempo, pela crença, não necessariamente correta, de que essa cirurgia seria fisicamente menos traumática para a mãe.
Por decisão acertada das autoridades federais, o número de cesárias recuou. É preciso mais para que a incidência da cesariana, estimulada pela conveniência de médicos e desinformação de mães, seja mantida em limites aceitáveis.


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