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TENDÊNCIAS/DEBATES
Guerra, um novo dilema para o Brasil
BRAZ DE ARAÚJO
"A guerra é uma questão vital
para o Estado. Por ser o campo
onde se decidem a vida ou a morte, o caminho para a sobrevivência ou para a
ruína, torna-se de suma importância estudá-la com muito cuidado em todos os
seus detalhes." Assim se inicia "A Arte
da Guerra", o famoso livro de Sun Tzu,
escrito há 2.500 anos. Após o 11 de setembro, não podemos nos esquecer de
que os Estados Unidos, que são a maior
potência do mundo e se situam em nosso hemisfério, estão em guerra contra o
terrorismo.
A comunidade internacional, com
apoio do Brasil, manifestou sua clara
solidariedade aos Estados Unidos. A decisão do presidente Bush de atacar o
Afeganistão, governado pela ditadura
do Taleban, teve amplo respaldo no
mundo todo. Algumas exceções, porém, já se revelaram, envolvendo grupos radicais islamitas em diversos países muçulmanos e radicais de esquerda
tradicionalmente antiamericanos.
A oposição à estratégia de combate ao
terrorismo aumenta paulatinamente,
na medida em que o regime de Saddam
Hussein passa a ser o segundo foco da
percepção de ameaças do governo americano. Estamos vivendo as tensões desse cenário de guerra. Torna-se necessário estudá-las com muito cuidado, em
todos os seus detalhes, pois os interesses
nacionais do Brasil podem ser gravemente ameaçados. Não podemos ser estrategistas ingênuos.
Todos sabemos que o Brasil tem assumido, até agora, a posição normal e esperada de sua diplomacia diante da
ameaça de guerra contra o Iraque e reafirmado suas posições voltadas para o
fortalecimento dos organismos multilaterais, no caso o Conselho de Segurança
da ONU. Ou seja, o Brasil apoiará os Estados Unidos desde que a decisão seja
do Conselho de Segurança, que daria
ampla legitimidade às ações militares
contra o regime de Saddam Hussein, inclusive na comunidade dos países árabes. A questão não se complicará muito
para a comunidade internacional se for
esta a decisão.
No entanto o cenário será radicalmente diferente se, por exemplo, a
França fizer uso de seu direito de veto
no conselho. Neste caso, os Estados
Unidos já afirmaram que vão atacar
com ampla coalizão de países amigos.
Este é um cenário de crise profunda, inclusive institucional, do sistema internacional, pois, no limite, a ONU perderá
sua própria legitimidade. O presente cenário de incertezas vai se agravar e, provavelmente, vai desestabilizar as economias mais frágeis, como a do Brasil.
Mesmo se houver abstenções e se se
abrir a possibilidade de nova maioria,
no Conselho de Segurança, favorável às
pretensões do presidente Bush e seus
aliados, poderão ficar evidentes os interesses de algumas grandes potências em
polarizar com os Estados Unidos ou se
contrapor a estes. A economia mundial
corre também o risco de se polarizar.
Salve-se quem puder.
Sem estreita cooperação estratégica com os Estados Unidos, corremos o grande risco de não fazer nada e de implodir
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Portanto um problema importante
para todos os brasileiros é aquele de saber, em um futuro muito próximo, de
que lado ficará o governo de nosso país:
contra os Estados Unidos e seus amigos
da coalizão ou a favor das posições da
França e seus aliados? Eis a questão
hamletiana de um possível novo dilema
em novo cenário de bipolaridade.
Assim, dependendo do que acontecer
nas relações dos Estados Unidos com as
grandes potências ativamente contrárias às percepções de ameaças definidas
pela administração Bush, ocorreriam
polarização generalizada e instabilidade
crescente em todo o mundo.
Com efeito, quem conhece as formulações da estratégia americana, seja de
democratas, seja de republicanos, sabe
que eles não se curvarão diante das
ameaças terroristas, que buscarão a
cooperação e que não serão sempre unilaterais. Os Estados Unidos não podem
ser derrotados pelo terrorismo com
apoio das diferentes torcidas antiamericanas que há no mundo. Seria um cenário catastrófico para a humanidade.
No presente momento, quem tem legitimidade para liderar a defesa dos interesses americanos é o presidente
Bush. Assim é a democracia. Dependendo dos acontecimentos, ele será reeleito e poderá governar o país e liderar a
guerra contra o terrorismo até 2008.
Aqui no Brasil, o presidente Lula foi recentemente eleito e vai governar até
2006. A maioria esmagadora dos brasileiros deseja que governe bem. Se tiver
um bom desempenho, poderá ser reeleito e governar até 2010. Qual o partido
que, podendo governar por oito anos,
planeja seu governo para apenas quatro? Seria uma ingenuidade.
Portanto o cenário estratégico é muito
simples: a guerra contra o terrorismo
poderá chegar à América do Sul muito
em breve. O Brasil, por meio do presidente da República, acaba de dar resposta enfática. Vamos assumir nossas
responsabilidades no contexto da cooperação. Quem se dispõe a liderar a
América do Sul vai ter que assumir posições assertivas e firmes e vai precisar
ter meios para assumir essa liderança.
Os brasileiros precisarão estar unidos.
Sem estreita cooperação estratégica
com os Estados Unidos, corremos o
grande risco de não fazer nada e de implodir. Sun Tzu continua atual.
Braz de Araújo, cientista político, é professor de Estratégias e Relações Internacionais e coordenador do Núcleo de Políticas e Estratégia da USP.
naippe@edu.usp.br
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