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CARLOS HEITOR CONY
O diabo e Deus entre nós
RIO DE JANEIRO - Em princípio,
não tenho nada contra ou a favor da
visita de Bush ao Brasil. São etapas
rotineiras das relações públicas dos
chefes de governo que, em geral, nada representam. A agenda dos assuntos é fabricada pelos escalões
técnicos, e dificilmente o encontro
de dois presidentes muda o rumo
dos acontecimentos de um país ou
de outro.
No caso do Brasil e dos EUA, pelo
menos desde Roosevelt, que aqui
veio duas vezes e cujo encontro
com Vargas foi importante para as
duas partes (a base militar em Natal
para os norte-americanos e a instalação de Volta Redonda para nós),
os demais mandatários de um e de
outro país que se encontraram limitaram-se a brindes e a declarações
de amizade mútua.
Logo após a Segunda Guerra
Mundial, Truman esteve em Petrópolis, numa reunião que transcendeu à visita protocolar, pois resultou num tratado de âmbito continental. E Carter incluiu na agenda
de sua visita um encontro com representantes que contestavam o regime militar que atravessávamos.
Ele esteve com o cardeal Arns,
com Raymundo Faoro e com outros. Ouviu deles os principais reclamos da oposição, que incluía sobretudo o fim da tortura institucionalizada dos anos de chumbo. Foi,
na realidade, o início do início da
abertura política.
Bush é o demônio de plantão da
cena internacional, sendo o equivalente de Chávez de acordo com as
preferências de cada grupo ideológico. Sua malignidade tem um caráter pessoal -nem por isso se explica a satanização maniqueísta que
predomina na mídia e nos escalões
acadêmicos.
Que seja ele o Anticristo que a humanidade sempre temeu. Não é caso para nosso desespero. Em maio,
receberemos o papa, que trará água
benta suficiente para nos livrar de
todo o mal, amém.
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