São Paulo, domingo, 11 de março de 2007

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A 5ª conferência em Aparecida

RAYMUNDO DAMASCENO ASSIS


Essas conferências ocorrem quando situações novas exigem reflexão e tomada de posição conjunta diante de novos desafios pastorais


"É MEU desejo celebrar a quinta conferência junto ao santuário de Nossa Senhora Aparecida", afirmou o papa Bento 16 ao presidente do Celam (Conselho Episcopal Latino-Americano) no dia 15 de outubro de 2005. E acrescentou: "Se Deus me deu essa missão, Ele me dará força para realizá-la".
No dia 13 de maio próximo -daqui a dois meses-, Bento 16 estará em Aparecida, no Estado de São Paulo, para realizar esse desejo e cumprir, em conseqüência, uma importante missão de seu pontificado.
Se considerarmos que a quinta conferência deveria realizar-se em Roma, devido a deliberação anterior de João Paulo 2º que levava em conta o precário estado de saúde em que se encontrava, não deixa de ser uma surpresa agradável a nova decisão de Bento 16 de escolher a América Latina -e, entre os países da região, o Brasil- para a primeira viagem intercontinental do seu pontificado.
A escolha é, sobretudo, uma demonstração da importância da América Latina, especialmente do Brasil, para o futuro da Igreja Católica. Dois dos antecessores de Bento 16 na cátedra de são Pedro já haviam cumprido semelhante missão.
Em 1968, Paulo 6º, na primeira viagem de um papa à América Latina, foi à Colômbia para, de lá, inaugurar a segunda conferência, que se realizou na cidade de Medellín.
João Paulo 2º, logo no início do seu pontificado, em 1979, em sua primeira viagem ao exterior, veio à América Latina para abrir, na cidade de Puebla, no México, a terceira conferência.
Mais tarde, em 1992, ele próprio inaugurou, em Santo Domingo, na República Dominicana, a 4ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho.
Essas conferências são uma modalidade própria de reunião dos bispos da América Latina e do Caribe, realizadas com a aprovação do papa. Nelas, os bispos exercem colegialmente o ministério. São reuniões que ocorrem quando situações novas exigem reflexão e tomada de posição conjunta diante de novos desafios pastorais.
A propósito, muitos são os desafios que a quinta conferência terá de enfrentar: o pluralismo religioso marcado por um forte proselitismo, o fenômeno da globalização e o anseio dos países do continente de formar uma comunidade de nações, a pobreza em que vive grande parte da população latino-americana, a crise da família, a crise na relação entre homem e ambiente, a violência diária e indiscriminada reinante na região.
Diante desses e de outros desafios, o tema escolhido para a quinta conferência -"Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que nossos povos n'Ele tenham vida. Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (Jo 14,6)- indica que, à luz da fé e da opção por Jesus Cristo, a proposta original da igreja para conseguir a transformação que desejamos para a sociedade não acontecerá tão-somente com a mudança das estruturas sociais, mas, paralelamente, e sobretudo, com a renovação interior das pessoas, que, no fiel seguimento de Jesus Cristo, se tornarão capazes de testemunhar, na vida familiar, profissional, social e política, os valores do Evangelho, que são valores autenticamente humanos, fermento de uma nova sociedade.

DOM RAYMUNDO DAMASCENO ASSIS , 70, arcebispo de Aparecida (SP), será o anfitrião do papa no Brasil. Foi secretário-geral do Celam (Conselho Episcopal Latino-Americano) de 1991 a 1995 e secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) entre 1995 e 1998 e entre 1999 e 2003.


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