São Paulo, terça-feira, 11 de março de 2008

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Dilema monetário

Com dólar em baixa e preços domésticos em alta, emergentes têm de escolher entre combater inflação ou especulação

OS CINCO movimentos de redução nos juros básicos americanos, de 5,25% ao ano em setembro para 3% em janeiro, têm limitado as alternativas dos bancos centrais asiáticos e europeus para conter pressões inflacionárias, decorrentes dos aumentos nos preços dos alimentos e da energia. Em mais um dia de turbulência nas principais Bolsas mundiais, o preço do petróleo atingiu ontem US$ 108 o barril. Apenas em fevereiro, a commodity subiu 37,5% na comparação com o segundo mês de 2007.
Com a disparada no custo da energia, os preços ao consumidor nas dez maiores economias asiáticas (excluído o Japão) crescem a um ritmo anual de 5,3%. Em janeiro, o índice de preços ao produtor subiu 4,9% na área do euro e 5,8% na União Européia como um todo.
Cresce a diferença entre os juros praticados nos Estados Unidos e os vigentes nas outras regiões do mundo, o que gera uma caudalosa corrente de dinheiro que sai do mercado americano à procura de aplicações mais rentáveis. O fenômeno valoriza moedas e outros ativos financeiros, semeando bolhas especulativas por onde passa. Se um país eleva os seus juros básicos para combater a inflação, atrai mais capital financeiro.
A China está no meio desse turbilhão. O índice de preços ao produtor subiu 6,6% em fevereiro, na comparação anual, o ritmo mais acelerado em três anos. Durante 2007, o BC chinês aumentou os juros seis vezes, para 7,47% ao ano. Por outro lado, o yuan valorizou-se cerca de 15% ante o dólar desde julho de 2005, quando a moeda chinesa começou a flutuar em relação a uma cesta de moedas. Para conter as pressões inflacionárias, alguns países passam a controlar preços de alimentos e de energia.
Simultaneamente, amplia-se o custo fiscal da acumulação de reservas internacionais e das políticas para segurar a valorização das taxas de câmbio. Os bancos centrais asiáticos detêm US$ 4 trilhões em reservas, e grande parte desse montante está aplicada em títulos do Tesouro americano. Os juros recebidos nas aplicações externas são menores do que os pagos nos títulos domésticos, emitidos para retirar moeda nacional de circulação.
Estima-se que nove bancos centrais asiáticos tenham perdido US$ 160 bilhões, desde julho de 2006. Sozinho, o BC chinês perde US$ 4 bilhões por mês. Nada disso, contudo, diminui a voracidade dos aplicadores globais, que continuam despejando caminhões de dinheiro nas economias emergentes.
Nesse cenário, fica cada vez mais difícil, para os emergentes, definir o rumo da política monetária. Se reduzem os juros, alimentam a inflação; se os aumentam, atiçam a especulação que infla a cotação de suas moedas.


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