São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 2011

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Política amorfa

Oportunismo do PDB de Kassab arregimenta apoio e adeptos; nasce alternativa tão maleável quanto o PMDB para aderir ao PT ou ao PSDB

O PDB (Partido da Democracia Brasileira), cuja criação vem sendo articulada pelo prefeito paulistano, Gilberto Kassab (DEM), pode representar a principal novidade do quadro político-partidário neste ano. Novidade, sim, mas não necessariamente positiva.
Na fundação do PDB pesa menos o que ele poderia agregar ou vocalizar em termos programáticos e ideológicos, e mais os interesses dos políticos envolvidos. Não é simples discernir entre projeto e oportunismo, no conjunto das legendas brasileiras, mas o PDB acrescenta o agravante de já nascer destinado a servir de ponte para uma futura fusão com o PSB -o Partido Socialista Brasileiro.
A legenda de Kassab seria, assim, um mero artifício para driblar a legislação eleitoral. Ela, afinal, prevê a perda do mandato para políticos que trocarem de partido.
O DEM, maior vítima da manobra, poderia recorrer à Justiça. Mas custa acreditar que o PDB venha a ser barrado só com base em intenções, ainda que as piores. Seria uma arbitrariedade: desde que atenda aos requisitos legais, o PDB será tão legítimo -ou tão ilegítimo- quanto a maioria dos partidos nacionais.
Fala-se agora, diante do mal-estar à volta da nova sigla, que a fusão com o PSB, se ocorrer, viria apenas depois das eleições municipais de 2012. O PDB lançaria candidatos próprios ou faria coligações com outros partidos.
Estima-se, hoje, que a legenda possa ter, de saída, em torno de 25 deputados federais. Deve abrigar, entre outros, o governador do Amazonas, Omar Aziz (PMN), o vice-governador da Bahia, Otto Alencar (PP), e o deputado Irajá Abreu (DEM-TO), filho da senadora Kátia Abreu, provável candidato à Prefeitura de Palmas.
O PDB, tudo indica, será o porto seguro para descontentes, um polo aglutinador da debandada na oposição e do rearranjo na base do governo. Partido anfíbio, pragmático no pior sentido, com vocação governista e os vícios mais comuns da política brasileira.
Se for, de fato, anexado ao PSB, que tem hoje 31 deputados e seis governadores sob a liderança de Eduardo Campos (PE), o novo partido provavelmente terá condições de rivalizar com o PMDB na condição de sócio preferencial do PT em 2014. Mas poderá também se associar aos tucanos, numa eventual disputa nacional contra o mesmo PT.
O caráter maleável da nova legenda, à vontade para se acomodar com A ou B, é a expressão acabada de um sistema político amorfo, no qual os interesses pessoais ou de feudos regionais tendem a prevalecer sobre reais identidades partidárias.


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