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São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Lula e os (seus) servidores

BRASÍLIA - O mais impressionante no aumento linear de 1% que o governo deu para os funcionários públicos é que, se houve reclamação, foi tão tímida que mal deu para ouvir.
Na oposição, o PT exigia mundos e fundos para um funcionalismo que se sente ainda hoje esmagado pelos oito anos sem reajuste do governo FHC. Agora, no lugar dos tucanos, dá 1% e pede paciência.
A passividade diante do 1%, porém, tem explicação: é um dos efeitos curiosos, apesar de típicos, de início de governo. Com um dado a mais: a expectativa positiva em relação a Lula.
Depois do mínimo e do reajuste dos servidores, vem aí a reforma da Previdência mirando a aposentadoria do setor público. Não se fala mais em contribuição de inativos, mas há bons outros motivos para um embate governo versus funcionalismo.
Os sindicatos e associações de servidores já entraram em campo -ou melhor, no vídeo- para condenar pontos da reforma. Agora, o governo prepara sua própria campanha na mídia para defender esses pontos como fundamentais, explicar didaticamente a reforma e tentar obter o apoio da opinião pública.
O governo, pois, pode estar tentando opor os servidores à maioria da população, inclusive aos assalariados e aposentados da iniciativa privada (cuja reforma já foi feita no governo FHC). É difícil o Congresso e particularmente o PT votarem contra interesses e pressões da forte categoria de servidores. A não ser que... a maioria da opinião pública compreenda e respalde as mudanças.
Os principais pontos em discussão já são sobejamente conhecidos (idade de aposentadoria e revisão da garantia de salário integral, por exemplo). Assim, as batalhas do governo são duas a partir de agora: política e de marketing. É nesses dois terrenos que ele vai ganhar ou perder a principal guerra deste ano. Deve ganhar.
Como paciência tem limite, o descontentamento de alguns setores, em especial do funcionalismo, deve começar a aparecer. Mas isso faz parte do jogo. E Lula tem muita gordura, ou popularidade, para queimar.


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