|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Lula e os (seus) servidores
BRASÍLIA - O mais impressionante
no aumento linear de 1% que o governo deu para os funcionários públicos é que, se houve reclamação, foi
tão tímida que mal deu para ouvir.
Na oposição, o PT exigia mundos e
fundos para um funcionalismo que
se sente ainda hoje esmagado pelos
oito anos sem reajuste do governo
FHC. Agora, no lugar dos tucanos, dá
1% e pede paciência.
A passividade diante do 1%, porém,
tem explicação: é um dos efeitos curiosos, apesar de típicos, de início de
governo. Com um dado a mais: a expectativa positiva em relação a Lula.
Depois do mínimo e do reajuste dos
servidores, vem aí a reforma da Previdência mirando a aposentadoria
do setor público. Não se fala mais em
contribuição de inativos, mas há
bons outros motivos para um embate
governo versus funcionalismo.
Os sindicatos e associações de servidores já entraram em campo -ou
melhor, no vídeo- para condenar
pontos da reforma. Agora, o governo
prepara sua própria campanha na
mídia para defender esses pontos como fundamentais, explicar didaticamente a reforma e tentar obter o
apoio da opinião pública.
O governo, pois, pode estar tentando opor os servidores à maioria da
população, inclusive aos assalariados
e aposentados da iniciativa privada
(cuja reforma já foi feita no governo
FHC). É difícil o Congresso e particularmente o PT votarem contra interesses e pressões da forte categoria de
servidores. A não ser que... a maioria
da opinião pública compreenda e
respalde as mudanças.
Os principais pontos em discussão
já são sobejamente conhecidos (idade de aposentadoria e revisão da garantia de salário integral, por exemplo). Assim, as batalhas do governo
são duas a partir de agora: política e
de marketing. É nesses dois terrenos
que ele vai ganhar ou perder a principal guerra deste ano. Deve ganhar.
Como paciência tem limite, o descontentamento de alguns setores, em
especial do funcionalismo, deve começar a aparecer. Mas isso faz parte
do jogo. E Lula tem muita gordura,
ou popularidade, para queimar.
Texto Anterior: Washington - Clóvis Rossi: Caubóis enlouquecidos Próximo Texto: Rio de Janeiro - Marcelo Beraba: Lengalenga Índice
|