São Paulo, domingo, 11 de abril de 2004

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Pessimismo não, realidade sim!

Em seu último número, a revista "Update", da Câmara Americana de Comércio, publicou uma série de tristes referências ao generalizado desperdício que ocorre neste país. Passo ao leitor algumas delas.
O Brasil perde, todos os anos, enormes quantidades de água, eletricidade, materiais de construção, grãos, frutas, hortaliças e produtos de origem animal. Centenas de milhares de postos de trabalho são destruídos anualmente devido ao fechamento prematuro de pequenas empresas. Quase 18 mil vidas se vão, em decorrência de homicídios banais.
São desperdícios que ultrapassam, em muito, o que se perde nos países avançados nas mesmas áreas.
A lista de perdas é enorme. O Brasil tem um custo de manutenção dos caminhões que é o dobro do praticado nos Estados Unidos, devido às precárias condições da maioria das rodovias do país. É calamitoso o desperdício devido à baixa velocidade dos veículos que trafegam em estradas esburacadas e perigosas. São imensas as perdas decorrentes de roubos e furtos de cargas (Antônio Graça, "País do Desperdício", "Update", abril de 2004).
Quando se soma tudo isso, pergunta-se: como pode um país sobreviver com tantas perdas? E, por cima de tudo, há as perdas decorrentes da ineficiência da máquina pública que cobra cada vez mais caro e entrega cada vez menos serviços.
As causas desse monstruoso desperdício são múltiplas. De um lado, há o desleixo do próprio governo na manutenção e ampliação da infra-estrutura. De outro, há a falta de civismo da população em geral, com raras exceções. Quando se juntam as más políticas à ineficiência administrativa e às condutas perdulárias de muitas pessoas, o resultado aí está.
Ninguém conseguiu quantificar o desperdício. Mas, certamente, ele ultrapassa, de longe, o que o governo procura obter como superávit primário -4,25% do PIB. Não seria o caso de o poder público encetar uma grande campanha de economia na sua própria máquina e de educação para a população? Não seria o caso de fixar metas claras contra tais perdas para serem alcançadas ano a ano?
O que se vê é o contrário. Por anos a fio, o governo só aumentou suas despesas, financiando-as com mais impostos e com empréstimos contraídos a juros exorbitantes, que acabaram sendo pagos -e continuam sendo pagos- pelos próprios contribuintes. Nesta semana mesmo vi na imprensa que a máquina pública (federal, estadual e municipal) está prestes a dar a partida no maior trem da alegria da história brasileira, tendo a bordo mais de 100 mil funcionários públicos! Ora, se a ordem é combater os desperdícios, como conciliar esse objetivo com a referida gastança?
Somos ou não somos perdulários? Até quando poderemos manter um governo caro em um país tão pobre? Mais grave do que tudo isso, como explicar que um país que tem uma enorme fartura de terra, água e luz solar produz apenas 1% do PIB mundial?
É, a natureza nos protegeu. É preciso que os seres humanos ajudem-na a desenvolver a nação.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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