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ANTONIO DELFIM NETTO
Miopia e ingenuidade
UMA DAS discussões menos
produtivas é filosofar, genericamente, sobre "concorrência", "eficiência", "vantagens
comparativas", "escolhas de vencedores e perdedores", "proteção ao
cidadão ou proteção à produção",
"conseqüências inevitáveis da globalização", "mão-de-obra barata",
"taxa de câmbio como produto natural de um fenômeno natural",
"taxa de juros como resultado dos
desmandos passados" etc.
Quando examinada com um
pouco mais de cuidado, a "ciência"
extraída dessa "filosofia" apresenta-se como um conjunto de conteúdo vazio.
Freqüentemente, tal filosofar
pressupõe coisas estranhas: 1º) que
existem condições absolutamente
isonômicas dentro dos países que
participam do comércio internacional e que, portanto, a competição é moralmente sustentável,
porque "todos têm as mesmas condições", e praticamente desejável,
porque "melhora, ao mesmo tempo, o atendimento das preferências
dos consumidores e o uso mais
econômico dos fatores"; 2º) que
existem "cidadãos-consumidores"
que não são, simultaneamente, "cidadãos-produtores"; 3º) que o pleno emprego está sempre garantido,
porque quem perde um posto de
trabalho no setor submetido à
competição externa encontrará,
sempre, outra atividade onde ele
será economicamente mais eficiente; 4º) que as instituições
(mercado de trabalho, assistência
social, previdência etc.) são as mesmas em todos os países; 5º) que, para o trabalhador (um animal misantropo e nômade, que se reproduz ocasionalmente quando encontra uma fêmea no seu "território"), é absolutamente indiferente
estar no Brasil, na China ou em
Moçambique; 6º) que o "espaço" (a
geografia) e o "tempo" (a história)
se reduzem, o primeiro, a um "ponto" (as distâncias não existem) e, o
segundo, está "suspenso" (a história não existe). Há muito mais curiosidades naquele filosofar que
não cabem neste "suelto".
Nenhuma dessas hipóteses tem
qualquer "semelhança com países
ou pessoas vivas ou mortas". A conclusão, portanto, que o "aumento
da produção de tal ou qual país é
devido à sua maior eficiência e produz um ótimo pareteano para o
mundo", uma vez que ele "enriquece a todos sem empobrecer ninguém", está longe de ser demonstrada.
A idéia de que a "super" valorização da taxa de câmbio que estamos
vivendo é produto natural da "melhoria das condições da economia"
é, no mínimo, risível. Ela está destruindo uma parte eficiente da produção brasileira, submetida a uma
míope política cambial, apoiada
apenas na ingenuidade nacional.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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