São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Diadema, 25 anos

JOSÉ DE FILIPPI JÚNIOR e MÁRIO REALI

Nesses 25 anos após a primeira posse do PT, o município passou por uma intensa transformação econômica e social

NÃO É exagero afirmar que, no início da década de 1980, Diadema era sinônimo de exclusão social. A infra-estrutura urbana era praticamente inexistente. Havia um grande problema habitacional e fundiário, resultante do abandono pelo poder público das áreas periféricas que, na época, já abrigavam boa parte da população.
A cidade era o retrato de um modelo econômico imposto pelo regime militar, em que os resultados do "milagre econômico" foram para uma ínfima parcela da sociedade e a perspectiva de trabalho concentrou-se nos grandes centros urbanos, que se expandiram desordenadamente.
Os trabalhadores e suas famílias, além de sofrer a exploração econômica, não tinham acesso a serviços públicos, como saúde, educação, habitação, transporte, segurança.
Porém, no interior dessa sociedade, foi gestada uma reação combinada entre a luta no chão da fábrica e as reivindicações dos movimentos sociais que estavam se organizando nos locais de moradia. Grosso modo, é dessa junção que nasce o Partido dos Trabalhadores (1980), que, em 1982, conquista suas duas primeiras prefeituras: Santa Quitéria, no Maranhão, cujo prefeito saiu da legenda antes do primeiro ano do mandato, e Diadema, onde o PT, de seis eleições disputadas, saiu vitorioso em cinco.
Nesses 25 anos após a primeira posse, o município passou por uma intensa transformação econômica e social. Foi um laboratório de experiências administrativas que definiu o modo petista de governar.
O enfrentamento dos problemas sociais foi e continua sendo por meio da parceria entre o poder público e a população. A participação popular é, sem dúvida, a espinha dorsal das sucessivas administrações petistas.
Na habitação, o município inovou na implementação da infra-estrutura, permitindo que as pessoas permanecessem em seus locais de moradia; e na legislação fundiária, com a criação do instrumento de concessão de direito real de uso e, posteriormente, com as áreas de interesse social para a população de baixa renda.
Dos 207 núcleos (favelas) até então existentes, 161 estão urbanizados, 32 estão recebendo melhorias e 14 estão em processo de urbanização. E, atualmente, 99% das vias do município estão pavimentadas
Os índices de mortalidade infantil caíram de 82,93 por mil nascidos para 12,3 por mil em 2007. A rede de saúde pública foi a que mais recebeu investimentos nesses 25 anos: em 1983, as despesas eram da ordem de R$ 8,2 milhões (atualizados); em 2007, subiram para R$ 160 milhões.
A marca mais recente da administração petista é a sua atuação no combate à violência urbana. No final da década de 1990, a cidade era considerada a mais violenta do Brasil. O quadro, além de afugentar novos investimentos econômicos, representava o caminho da completa desestruturação do tecido social urbano.
A reação começou no início de 2001, com uma série de iniciativas que envolveram a participação direta da sociedade na elaboração dos planos municipais de segurança pública, nas ações integradas das políticas públicas e nas operações conjuntas entre a guarda municipal e as polícias civil e militar. Disso resultaram programas de grande impacto, como o fechamento de bares às 23h e o projeto Adolescente Aprendiz, que busca a inserção social dos jovens na sua comunidade e no mercado de trabalho.
O combate à violência demonstrou para todos a necessidade de valorizar o trabalho a longo prazo, com planejamento e inteligência operacional.
Além de persistência e vontade coletiva para mudar determinada realidade. Sem esses fatores não seria possível alcançar os números atuais. A queda de homicídios em números absolutos foi de 374 (1999) para 80 (2007), uma redução de 78%.
As transformações urbanas e sociais do município, aliadas ao bom momento da economia no país, estão atraindo mais investimentos. Segundo dados de 2007 do Ministério do Trabalho, no saldo de geração de empregos, Diadema ficou em terceiro lugar no grande ABCD e em 16º entre os municípios do Estado de São Paulo.
Em todo esse processo, ocorreu o amadurecimento político dos militantes partidários e da própria população em geral.
De um lado, houve a compreensão de que não se governa para si, muito menos para poucos; de outro, a necessidade de participar para definir os rumos da cidade e, em último caso, da melhoria da vida de cada um.


JOSÉ DE FILIPPI JÚNIOR, 50, engenheiro civil, é prefeito de Diadema (PT) e morador da cidade.
MÁRIO REALI, 50, arquiteto e urbanista, mestre pela USP, é deputado estadual (PT-SP) e morador de Diadema.


Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES
Lino Oviedo: Em defesa da união Paraguai-Brasil

Próximo Texto: Painel do Leitor
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.