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CLÓVIS ROSSI
Quebrar o espelho
SÃO PAULO - O que faz quem anda com má imagem? Se é uma pessoa normal e entende que a má imagem é produto, de fato, de atitudes
incorretas ou inconvenientes, trata
de corrigi-las.
Se acha, ao contrário, que a imagem ruim é injusta, trata de divulgar o máximo possível de fatos que
demonstrem a injustiça e, no limite,
corrijam a imagem.
Mas, se é congressista, quebra o
espelho que mostra a imagem.
É o que acaba de fazer o Senado,
ao decretar que todo pedido de informação deve vir na forma de ofício, com prazo de cinco dias para a
resposta. Quer dizer na prática o seguinte: o parlamentar é, teoricamente, representante do tal de povo, mas não se sente como tal.
Sente-se como parte de um clube
fechado que não tem a menor pressa em dar satisfação ao público.
Nesse ambiente porco, sou obrigado a lembrar uma coisa elementar, mas que os nobres pais da pátria
perderam de vista faz séculos: jornalista, salvo os venais que também
existem, não busca informação para levar para casa e contar para a
mulher, o pai, a mãe, os filhos ou os
amigos.
O sentido da coisa toda é repassar
as informações ao leitor/eleitor.
Lembro também outra obviedade
que a casta esqueceu completamente: todas as informações que os
congressistas detêm não são propriedade pessoal. Ele não fica sabendo disso ou daquilo nem toma
tal ou qual atitude como pessoa física, mas como pessoa jurídica, como
representante do eleitor.
Por extensão, tem que dar satisfações imediatas a este, diretamente ou via mídia, como acontece em
qualquer lugar do mundo civilizado. E quando não acontece, a imagem do político sofre tanto que ele
acaba defenestrado.
Aqui, terra sem lei e sem respeito,
não. O político quebra o espelho para evitar que o público veja a imagem patética que eles construíram
e querem esconder.
crossi@uol.com.br
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