São Paulo, sábado, 11 de abril de 2009

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RUY CASTRO

Adriano entre amigos

RIO DE JANEIRO - Há cerca de um ano e meio, escrevi sobre o jogador Adriano neste espaço. Na época, ele estava de volta ao Brasil, supostamente para se internar numa clínica para dependentes químicos. "É a coisa certa a fazer", escrevi.
"Desde o começo, as pessoas relutam em tratar de seu caso pelo único nome que lhe cabe: alcoolismo".
Mas esse tratamento não aconteceu. Em vez disso, Adriano foi por empréstimo para o São Paulo, onde espiões, psicólogos e preparadores físicos o puseram em forma para jogar e marcar alguns gols. Dado como "recuperado", voltou para seu clube na Itália. Para todos os efeitos, não era mais alcoólatra. Ou nunca fora -em toda parte, há uma burra e invencível relutância em classificar alguém assim.
Acontece que Adriano nunca se tratou e nunca se recuperou. Se pareceu funcionar a contento durante sua temporada paulistana -uma ou duas escapadas na noite, pelo que vazou-, é porque seu grau de dependência ainda não o incapacitara. Mas a dependência é um processo, acima da competência de clubes de futebol ou de spas. O único lugar para tratá-la são as clínicas especializadas. Justamente para onde ele não quer ir, para não ficar marcado pela palavra feia.
"Adriano está deprimido porque brigou com a namorada". "O caso de Adriano é psiquiátrico". "Adriano precisa de paz". Tudo conversa fiada -a depressão é consequência, não causa, da dependência. E, se Adriano prefere o morro da Chatuba aos bordéis "high-tech" de Milão é porque, aqui, entre seus amigos de infância (hoje, donos do tráfico no morro), pode beber sem ser perturbado ou cobrado.
Adriano não é um bad boy. Mas, entre a bebida e o futebol, sua cabeça já não influi. Foi o organismo que escolheu. O processo está longe de terminar. E, em futuro próximo, ainda pode piorar muito.


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