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RUY CASTRO
Adriano entre amigos
RIO DE JANEIRO - Há cerca de
um ano e meio, escrevi sobre o jogador Adriano neste espaço. Na época, ele estava de volta ao Brasil, supostamente para se internar numa clínica para dependentes químicos.
"É a coisa certa a fazer", escrevi.
"Desde o começo, as pessoas relutam em tratar de seu caso pelo único nome que lhe cabe: alcoolismo".
Mas esse tratamento não aconteceu. Em vez disso, Adriano foi por
empréstimo para o São Paulo, onde
espiões, psicólogos e preparadores
físicos o puseram em forma para jogar e marcar alguns gols. Dado como "recuperado", voltou para seu
clube na Itália. Para todos os efeitos, não era mais alcoólatra. Ou
nunca fora -em toda parte, há uma
burra e invencível relutância em
classificar alguém assim.
Acontece que Adriano nunca se
tratou e nunca se recuperou. Se pareceu funcionar a contento durante
sua temporada paulistana -uma ou
duas escapadas na noite, pelo que
vazou-, é porque seu grau de dependência ainda não o incapacitara.
Mas a dependência é um processo,
acima da competência de clubes de
futebol ou de spas. O único lugar para tratá-la são as clínicas especializadas. Justamente para onde ele
não quer ir, para não ficar marcado
pela palavra feia.
"Adriano está deprimido porque
brigou com a namorada". "O caso
de Adriano é psiquiátrico". "Adriano precisa de paz". Tudo conversa
fiada -a depressão é consequência,
não causa, da dependência. E, se
Adriano prefere o morro da Chatuba aos bordéis "high-tech" de Milão
é porque, aqui, entre seus amigos de
infância (hoje, donos do tráfico no
morro), pode beber sem ser perturbado ou cobrado.
Adriano não é um bad boy. Mas,
entre a bebida e o futebol, sua cabeça já não influi. Foi o organismo que
escolheu. O processo está longe de
terminar. E, em futuro próximo,
ainda pode piorar muito.
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