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EMÍLIO ODEBRECHT
Famílias e negócios
NA HISTÓRIA do desenvolvimento econômico do Brasil, as organizações de capital nacional controladas por
empresas familiares costumam
aparecer com destaque na pequena
lista das que somam décadas de
existência.
Algumas peculiaridades as diferenciam. Por exemplo, são organizações que têm uma coesão interna
bem acima da média, pois as figuras do fundador e da família controladora remetem aos princípios,
valores e crenças que os movem.
Isto também reforça os vínculos de
lealdade dos seus integrantes.
Mas elas têm que lidar com um
desafio específico: promover de
forma correta a sucessão de liderança dos negócios entre as gerações, fazendo-o de forma planejada
e livre de incertezas.
É importante que se estabeleça
sobre a sucessão dois princípios: o
primeiro é que não se pode admitir
que a ascensão profissional dentro
da organização se dê por laços sanguíneos; e o segundo é que também
não se deve inibir o crescimento de
uma pessoa porque tem o sobrenome do acionista controlador. Em
síntese: nem privilégios, nem preconceitos.
Nesse sentido, é fundamental a
permanente atenção às qualificações, à personalidade de cada potencial líder futuro e à convergência de visão e objetivos. Assim, os
que têm o perfil adequado poderão
crescer na carreira e ocupar os postos de comando preparados para
preservar a cultura, dar seguimento ao trabalho dos antecessores e
impor à história da organização a
sua marca pessoal, sejam membros
da família controladora ou não.
O ambiente para o sucesso de
uma organização controlada por
uma ou mais famílias requer que
cultura e filosofia sejam explícitas.
O paternalismo e a tutela devem
ser cuidadosamente evitados
-maus conselheiros que são- e as
disputas internas pelo poder e
eventuais contendas de egos, severamente banidas, sob pena de colocarem em risco a própria existência da organização.
Em companhias já amadurecidas, não raro coexistem três gerações. Essa convivência faz com que
o processo de renovação nunca
cesse. Assim que uma geração
ocupa novas posições no organograma, deve começar a se preparar
para assumir outros desafios no
futuro, enquanto, simultaneamente, forma a geração que a vai
substituir.
Quando há clareza acerca destes
pontos, elimina-se a "bolsa de
apostas". A identificação do sucessor é papel do sucedido, a sucessão
se dá de forma natural, a empresa
prospera no melhor interesse de
seus clientes, comunidades às
quais serve, acionistas e integrantes e segue no rumo da sobrevivência, do crescimento e da perpetuidade.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta
coluna.
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