UOL




São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

Próximo Texto | Índice

FÔLEGO CURTO

A queda expressiva da cotação do dólar observada nas últimas semanas dá ensejo a um alívio. A perspectiva de que a inflação se desacelere entre este ano e o próximo, ainda que lentamente, ficou bastante reforçada, afastando assim o temor de que pudesse ocorrer um processo de reindexação.
Número crescente de analistas avalia que, menos premido pela inflação, o Banco Central (BC) poderá animar-se a começar a cortar os juros, mesmo que com bastante cautela, agora em sua reunião de maio, o que daria algum alento à demanda interna. Isso tenderia a engrossar o clima de relativo otimismo que começa a se esboçar e, portanto, poderia dar início a uma retomada do crescimento da economia.
Não se pode ignorar que essa retomada poderia ser rapidamente interrompida na eventualidade de ocorrer uma inflexão recessiva da economia internacional -um risco que não está de modo nenhum afastado. Mas, admitindo que as autoridades dos países ricos se revelem capazes de manter suas economias em expansão, mesmo que moderada, tem-se a impressão de que a retomada do crescimento da economia brasileira poderia ter continuidade.
Essa é a avaliação expressa pela média das projeções das instituições financeiras e consultorias, a qual, segundo apuração do BC, aponta para alta do PIB da ordem de 3% em 2004 e 3,5% em 2005.
Cabe questionar, porém, qual seria o fôlego dessa expansão esperada. Em particular, importa discutir até que ponto ela tenderia a se revelar compatível com a preservação de um superávit alto na balança de comércio exterior do país. Isso porque a corrosão desse superávit dificultaria imensamente o aumento das reservas de divisas do BC (que continuam muito baixas) e, ao colocar as contas externas novamente em posição frágil, tenderia a levar a uma nova freada da atividade econômica.
Esses surtos breves de crescimento, interrompidos devido ao surgimento de estrangulamentos nas contas externas, têm sido recorrentes no Brasil desde os anos 80. Dois aspectos parecem especialmente relevantes para que essa sequência de "vôos de galinha" possa ser interrompida. Ambos dizem respeito à viabilização de investimentos no setor exportador e na substituição de importações.
Vários setores exportadores (como o siderúrgico e o de papel e celulose) já estão operando praticamente no limite da capacidade produtiva. E diversos outros setores (como bens de capital, química, telecomunicações, informática) tenderão a pressionar fortemente as importações à medida que a demanda interna se reaquecer. Nos dois casos, a aceleração dos investimentos aparece como fundamental para reforçar a capacidade de produção nacional e preservar o superávit comercial a partir de 2004.
O primeiro fator importante para viabilizar esses investimentos é a cotação do dólar. Se a moeda americana permanecer abaixo de R$ 3 até o final deste ano, o dano imediato ao saldo comercial poderá não ser tão relevante, mas haverá pouco estímulo à aceleração dos investimentos. O segundo fator é a mobilização da política industrial: um desafio para o governo, que exigirá superar anos de relativa paralisia dos órgãos públicos do setor e vencer resistências, inclusive ideológicas, à articulação de estímulos públicos a investimentos estratégicos para o país.



Próximo Texto: Editoriais: O PÓS-GUERRA

Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.