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São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

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O PÓS-GUERRA

Com as tarefas básicas do dia-a-dia voltando ao normal no Iraque, os EUA pediram à ONU que levante as sanções que havia 13 anos pesavam contra o país. O gesto representa uma tentativa de normalização das relações de Washington com as Nações Unidas e, por extensão, com o mundo, mas dificilmente as coisas voltarão a ser como antes da deflagração da guerra.
Com efeito, os alicerces da geopolítica global foram profundamente alterados pelo conflito, que foi decidido de modo quase unilateral pelo presidente George W. Bush e sob a oposição de boa parte dos governos mundiais. Ao longo dos últimos 50 anos, os EUA se envolveram na criação e consolidação da ONU e de um sistema de segurança multilateral. É verdade que esse esforço se viu em larga medida bloqueado pela paralisia resultante do antagonismo entre EUA e União Soviética durante a Guerra Fria. Mas, depois do colapso do bloco soviético no final dos anos 80, pareceu que seria possível criar um sistema de segurança multilateral efetivo. George Bush pai foi um dos presidentes norte-americanos que se empenharam nesse projeto.
Com altos e baixos, avanços e retrocessos, as coisas pareciam de fato caminhar nesse sentido. Só que vieram o 11 de setembro e a resposta americana. Para a incursão no Afeganistão os EUA obtiveram apoio mundial. Já no caso do Iraque, o que conseguiram foi criar uma rara maioria mundial contra Washington. Bush fez a guerra e venceu, mas, no caminho, desgastou a ONU e a Otan (aliança militar ocidental) e dividiu a União Européia e a opinião pública internacional. Numa visão menos indulgente, ele simplesmente solapou o sistema de segurança internacional, a coalizão antiterror e a idéia de comunidade das nações.
Mesmo agora, passada a guerra, Bush parece pouco disposto a reconciliar-se de verdade com a ONU. Só oferece à organização um papel secundário na reconstrução do Iraque.
O conflito demonstrou que os EUA detêm a supremacia militar no planeta. Nenhum país é páreo para a fabulosa máquina de guerra norte-americana. A vitória reforçou ainda o poder dissuasivo de Washington. Outros países com os quais os EUA mantêm relações tensas, como a Coréia do Norte, o Irã e a Síria, parecem ter compreendido o recado dado a Saddam Hussein e quase automaticamente moderaram suas posições. A tendência agora é que a poeira baixe e que os EUA, aos poucos, voltem a valorizar a ONU e a diplomacia.
A aventura iraquiana pode até ser vista como uma vitória pelos "falcões" do governo Bush, mas, para o mundo, o fato é que o multilateralismo nas relações internacionais retrocedeu bastante.



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