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São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Ressurreição

BRASÍLIA - Há muitas coincidências entre José Dirceu, o homem forte na política de Lula, e Sérgio Motta, o homem forte na política de FHC. Isso vale para as qualidades, que não são poucas. E para os defeitos, que se avolumam com a chegada ao poder.
Dirceu, como Serjão, apaixonou-se desde jovem pela política, respirou e viveu política. Dos sonhos juvenis para as articulações partidárias, e delas para o pragmatismo que vence eleições e mantém o poder. Até o "pode-tudo". Longo caminho. Sem volta.
Serjão era um obsessivo que comia muito, falava pelos cotovelos, tinha idéias borbulhantes e era, acima de tudo, um "operador". No jargão político, é quem viabiliza apoios, recursos, campanhas, até partidos e candidatos. Mas, como não era bom produto eleitoral, apegou-se a FHC. Um fazia acontecer, o outro acontecia.
José Dirceu também é um obsessivo, capaz de viver anos com uma mulher que amava sem lhe revelar a identidade, nem mesmo o verdadeiro rosto. Em nome de uma causa. Um homem capaz de segredos tumulares -ou de qualquer coisa- pela política.
Ao chegar ao poder com FHC, Serjão liberou FHC para brilhar e foi a mão-de-ferro que comprava o que tinha de comprar, calava o que tinha de calar e lutava para manter o barco no rumo centro-esquerda. Custasse o que custasse. Até sua imagem.
Ao chegar ao poder com Lula, Dirceu é a mão-de-ferro que se infiltra pelos acertos partidários e congressuais, pelas negociações da fusão de companhias aéreas, pelo tira-e-bota das reformas da Previdência e tributária. Encrencou com Itamar? Chama o Dirceu. Incomodou o Aécio? Chama o Dirceu. E acaba funcionando, como num passe de mágica. Ou de compromissos e promessas.
Palocci, na Fazenda, toureia a economia como Malan. Mercadante, no Senado, cobra mexidas na economia, como Serra. Dirceu, no Planalto, é o onipresente que faz e diz o que Lula não pode fazer nem dizer diretamente. Como Serjão e FHC.
O preço que a política, o governo e a fidelidade cobraram de Serjão foi imenso. Com Dirceu, será diferente?



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