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São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Tudo como antes

RIO DE JANEIRO - A aprovação popular ao governo Lula continua alta. Em parte porque alguns índices econômicos permanecem estáveis com tendência a se fixarem em patamar confortável. Em parte também pela colossal expectativa que a sua eleição abriu para a grande massa do população.
Contudo são cada vez maiores e mais graves os recuos e confusões da equipe que integra o primeiro escalão. Na semana que acabou, tivemos a vitória de dois lobbies sobre as intenções do governo. Na questão da Previdência, problema prioritário há muito, ameaçando uma falência que provocará convulsão social, os 90 mil processos de maus pagadores terão mais uma vez a oportunidade de rolar com a barriga a apropriação indébita do dinheiro arrecadado dos salários da classe trabalhadora.
É um crime, um roubo, e, se de um lado o que interessa ao governo é o pagamento da dívida, de outro a sucessão de oportunidades para a negociação adia para um futuro que nunca chega o momento de verdade.
Durante décadas, o PT, com Lula à frente, bradava que a falência do sistema previdenciário era decorrência da tolerância dos governos comprometidos com as elites, com as multinacionais etc. etc.
Com quatro meses no poder, o petismo oficial se submete aos mesmos argumentos dos devedores: o importante é pagar, ou prometer pagar. E, de Refis em Refis, o sistema da Previdência foi para o ralo e do ralo entrou pelo cano.
Outro recuo do governo, desta vez positivo, pois foi um passo atrás na direção certa, terminou na confraternização dos cineastas com o ministro que administra as verbas oficiais de apoio à cultura.
O dirigismo estatal é uma das aberrações mais nefastas de qualquer regime totalitário.
Mas o recuo revelou que o governo não tem como resistir a nenhum lobby, seja positivo, como o dos cineastas, seja negativo, como o dos depositários infiéis do dinheiro de todos os trabalhadores.



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