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REALIDADE PARALELA
O laudo médico de Silvio Pereira, apresentado como tentativa de suspender seu depoimento à
CPI dos Bingos, atribuía ao ex-secretário-geral do PT um "visível transtorno de adaptação à realidade". Em
sua fala ontem à comissão, esse desvio esteve presente do início ao fim.
Com a mão enfaixada e sob efeito
de psicotrópicos, Pereira aparentava
total alheamento em relação à pauta.
Em respostas que oscilaram entre a
apatia, o estupor e o puro "nonsense", o dirigente petista não fez nenhuma revelação capaz de comprometer o partido ou o governo.
O motivo da convocação foram declarações recentemente concedidas.
Em entrevista ao jornal "O Globo",
Pereira afirmou que a versão de Delúbio Soares e Marcos Valério de Souza
sobre o mensalão foi combinada entre ambos para evitar que a verdade
viesse a "derrubar a República".
Mencionou ainda a existência de um
grupo de empresas que financiava o
esquema a fim de obter benefícios
fraudulentos do poder público.
Na CPI, o ex-secretário recusou-se
até mesmo a reconhecer as próprias
declarações. "Não tive forças para ler
a entrevista", afirmou. "Não sei de
onde eu tirei isso, se foi da imprensa,
se foi da minha cabeça". Nem a
constrangedora iniciativa do presidente da comissão, senador Efraim
Morais, de ler a íntegra da peça jornalística serviu para reavivar a memória
do depoente e conferir a suas declarações teor mais objetivo.
Para o andamento das investigações, o depoimento foi improdutivo.
Pereira eximiu-se de confirmar as
práticas delituosas do partido. Recusou-se igualmente a discorrer sobre
os negócios do esquema com empresas e licitações públicas. Levou ao
paroxismo a tática de fugir à inquirição com abstrações e evasivas.
Do ponto de vista simbólico, contudo, a sessão de ontem teve utilidade. Ela atesta o grau de incomunicabilidade a que chegaram as investigações da CPI e acrescenta ao já vasto
anedotário sobre a crise um de seus
capítulos mais caricatos.
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