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FERNANDO RODRIGUES
O sacrifício dos juízes
BRASÍLIA - Aconteceu de novo.
Juízes passaram um feriadão num
hotel de luxo acompanhados de
mulheres ou maridos. Desta vez,
eram magistrados ligados à Justiça
do Trabalho. A conta do Tivoli Ecoresort Praia do Forte, na Bahia, foi
paga pela pela Febraban, a federação dos bancos brasileiros.
Os juízes sempre dão a mesma
explicação para esse tipo de estripulia. É tudo legal, feito às claras.
Um magistrado não se venderia por
um fim de semana num resort de
luxo com todas as mordomias pagas. Para arrematar, é um "sacrifício" desfrutar uns dias diante do
mar.
João Oreste Dalazen, vice-presidente do TST e membro do CNJ
(Conselho Nacional de Justiça), declarou ter sido "um sacrifício muito
grande" passar o feriado de 21 de
abril no hotel de luxo.
Em setembro de 2006, o então
corregedor nacional do CNJ, Antonio de Pádua Ribeiro, participou de
um evento semelhante no hotel
Transamérica da Ilha de Comandatuba -também na Bahia e com patrocínio da Febraban. Sua explicação: "Procurei, com o sacrifício do
meu fim de semana, dar cumprimento ao preceito constitucional
de ser o CNJ um órgão de interlocução do Judiciário com a sociedade".
O roteiro dos próximos dias já está escrito. Um punhado de gatos
pingados ficará indignado. Em geral o indiferentismo prevalecerá em
relação à magnífica reportagem do
último sábado, da Folha, relatando
o convescote no Tivoli Ecoresort.
Vigora no poder em Brasília um
raciocínio binário: se um evento
pago pelos bancos é realizado à luz
do dia, não há problemas. É uma
transparência parecida com a das
famosas vitrines de Amsterdã.
O CNJ analisou o tema em 2006.
Rebarbou proibir essas farras de
juízes. A inação desse organismo
destinado a moralizar o Judiciário
é tão chocante como o sacrifício das
excelências togadas aceitando passeios pagos pelos bancos.
frodriguesbsb@uol.com.br
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