São Paulo, segunda-feira, 11 de maio de 2009

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FERNANDO RODRIGUES

O sacrifício dos juízes

BRASÍLIA - Aconteceu de novo. Juízes passaram um feriadão num hotel de luxo acompanhados de mulheres ou maridos. Desta vez, eram magistrados ligados à Justiça do Trabalho. A conta do Tivoli Ecoresort Praia do Forte, na Bahia, foi paga pela pela Febraban, a federação dos bancos brasileiros.
Os juízes sempre dão a mesma explicação para esse tipo de estripulia. É tudo legal, feito às claras.
Um magistrado não se venderia por um fim de semana num resort de luxo com todas as mordomias pagas. Para arrematar, é um "sacrifício" desfrutar uns dias diante do mar.
João Oreste Dalazen, vice-presidente do TST e membro do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), declarou ter sido "um sacrifício muito grande" passar o feriado de 21 de abril no hotel de luxo.
Em setembro de 2006, o então corregedor nacional do CNJ, Antonio de Pádua Ribeiro, participou de um evento semelhante no hotel Transamérica da Ilha de Comandatuba -também na Bahia e com patrocínio da Febraban. Sua explicação: "Procurei, com o sacrifício do meu fim de semana, dar cumprimento ao preceito constitucional de ser o CNJ um órgão de interlocução do Judiciário com a sociedade".
O roteiro dos próximos dias já está escrito. Um punhado de gatos pingados ficará indignado. Em geral o indiferentismo prevalecerá em relação à magnífica reportagem do último sábado, da Folha, relatando o convescote no Tivoli Ecoresort.
Vigora no poder em Brasília um raciocínio binário: se um evento pago pelos bancos é realizado à luz do dia, não há problemas. É uma transparência parecida com a das famosas vitrines de Amsterdã.
O CNJ analisou o tema em 2006. Rebarbou proibir essas farras de juízes. A inação desse organismo destinado a moralizar o Judiciário é tão chocante como o sacrifício das excelências togadas aceitando passeios pagos pelos bancos.

frodriguesbsb@uol.com.br


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