São Paulo, segunda-feira, 11 de maio de 2009

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RUY CASTRO

A gaivota Brasil

RIO DE JANEIRO - Em 1958, quando o Brasil ganhou a Copa do Mundo pela primeira vez, o país inteiro sentiu que o triunfo lhe pertencia. Nosso "complexo de vira-lata" -expressão criada na época por Nelson Rodrigues- era então de tal ordem que só um triunfo como aquele nos poderia redimir das nossas pulgas e sarnas crônicas.
De um minuto para o outro, segundo Nelson, cada brasileiro, do mais poderoso tubarão paulista ao mais humilde torcedor do Bonsucesso, tornou-se campeão do mundo. A publicidade pegou o mote e tudo no Brasil, inclusive os liquidificadores e as enceradeiras, passou a ser chamado assim. Ficou famosa a história do bebum tentando matar uma mosca que voejava ao redor de seu chope no Jangadeiros, em Ipanema. Mas o jornalista Lucio Rangel o sustou, dizendo: "Não faça isso! Essa mosca também é campeã do mundo!".
De lá para cá, o Brasil já ganhou tantas Copas que a coisa caiu no rame-rame. E, várias vezes, fomos ainda os maiorais em automobilismo, boxe, tênis, vôlei e outros esportes em que o destino, eventualmente, nos agraciou com um ou mais gênios.
Falta-nos talvez um pouco de consistência para ganhar mais títulos, inclusive no terreno esportivo -sem falar em modalidades mais sérias, como distribuição de renda, justiça social, segurança pública, planejamento familiar ou vergonha na cara. Nesta última, por sinal, a lanterninha é nossa, em escala mundial, e ninguém tasca.
Mas nem tudo está perdido. A prova é a vitória do estudante paulistano Leonard Ang no recente campeonato mundial de aviõezinhos de papel, em Salzburgo, Áustria. Leonard manteve sua gaivota no ar pela enormidade de 11,66 segundos. Nada simboliza tão bem o Brasil quanto essa gaivota que, contra toda a lógica e os ventos contrários, insiste em planar.


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