São Paulo, domingo, 11 de junho de 2000


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CARLOS HEITOR CONY

A doença e o remédio

RIO DE JANEIRO - Cobram-me uma opinião sobre os recentes atentados ao governador Mário Covas e ao ministro José Serra. Antes de mais nada, a condenação óbvia à violência, não apenas a dos manifestantes, como a das autoridades que truculentamente conduzem o país ao desespero.
São dois tucanos, ligados desde criancinhas ao presidente da República. Gostam do poder e não primam pela coerência entre o verbo e a ação, o discurso e a prática.
Estão na chuva para se molhar, como os cavalos do ditado que já existia quando Covas e Serra nasceram. Pessoalmente, lamento que um homem da idade e com a saúde delicada do governador de São Paulo receba pauladas por aí. Qualquer tipo de agressão física é condenável -a menos que haja uma guerra declarada.
Mas quem declara uma guerra dessas? Precisa sair um decreto no "Diário Oficial" reconhecendo o estado de beligerância? Ou o estado de beligerância se cria dentro de circunstâncias que, além de geradas pelas próprias autoridades, são previsíveis como as marés, os eclipses e as expulsões de campo do Edmundo?
Nos tempos do governo de Figueiredo, jogaram um ovo no então ministro Nelson Marchesan. Na ocasião, escrevi uma crônica com um título estranho: ""A epismolotogia do ovo". Separava o ovo da pessoa física do ministro. O cavalo da chuva.
A situação se repete. Os amigos do governo na mídia e principalmente o próprio governo acusam tais manifestações de neofascistas -o que é uma bobagem, não há neofascismo, tão velho ele é.
Nos tempos totalitários do regime militar, a acusação era equivalente. Quem agrediu o ministro de Figueiredo foram os comunistas, agentes a soldo de Moscou.
O primarismo do diagnóstico, como se nota, é idêntico e análogo. Condena o remédio errado para certa doença que conhecemos.



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