|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
A doença e o remédio
RIO DE JANEIRO - Cobram-me uma opinião sobre os recentes atentados
ao governador Mário Covas e ao ministro José Serra. Antes de mais nada,
a condenação óbvia à violência, não
apenas a dos manifestantes, como a
das autoridades que truculentamente conduzem o país ao desespero.
São dois tucanos, ligados desde
criancinhas ao presidente da República. Gostam do poder e não primam pela coerência entre o verbo e a
ação, o discurso e a prática.
Estão na chuva para se molhar, como os cavalos do ditado que já existia
quando Covas e Serra nasceram. Pessoalmente, lamento que um homem
da idade e com a saúde delicada do
governador de São Paulo receba pauladas por aí. Qualquer tipo de agressão física é condenável -a menos
que haja uma guerra declarada.
Mas quem declara uma guerra dessas? Precisa sair um decreto no "Diário Oficial" reconhecendo o estado de
beligerância? Ou o estado de beligerância se cria dentro de circunstâncias que, além de geradas pelas próprias autoridades, são previsíveis como as marés, os eclipses e as expulsões de campo do Edmundo?
Nos tempos do governo de Figueiredo, jogaram um ovo no então ministro Nelson Marchesan. Na ocasião,
escrevi uma crônica com um título
estranho: ""A epismolotogia do ovo".
Separava o ovo da pessoa física do
ministro. O cavalo da chuva.
A situação se repete. Os amigos do
governo na mídia e principalmente o
próprio governo acusam tais manifestações de neofascistas -o que é
uma bobagem, não há neofascismo,
tão velho ele é.
Nos tempos totalitários do regime
militar, a acusação era equivalente.
Quem agrediu o ministro de Figueiredo foram os comunistas, agentes a
soldo de Moscou.
O primarismo do diagnóstico, como se nota, é idêntico e análogo.
Condena o remédio errado para certa doença que conhecemos.
Texto Anterior: Brasília - Valdo Cruz: Tartaruga Próximo Texto: Antonio Ermírio de Morais: Globalização: a colonização moderna Índice
|