São Paulo, domingo, 11 de junho de 2006

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CARLOS HEITOR CONY

Do alto do salto alto

RIO DE JANEIRO - Não é somente a seleção de futebol que está andando de salto alto. A experiência ensina que o salto alto é expressão geralmente mal informada de uma superioridade que a realidade desmente.
Também o presidente Lula está andando de salto alto após a ressaca dos escândalos que bagunçaram o seu governo. Montado no cômodo patamar de 60% das intenções de voto em diversas regiões do país, ele já se sente reeleito -somente um fato novo (e improvável) impedirá um novo desgoverno.
A questão que me parece certa é a reeleição de Lula, em campanha eleitoral explícita há mais de três anos e sem concorrente categorizado à vista.
Reeleito, será um presidente de coisa nenhuma, mais ou menos como agora. Terá uma representatividade para o cerimonial aqui dentro e fora do país, mas, poder de imprimir um rumo ao país, isso não aconteceu agora nem acontecerá no próximo mandato.
Na atual gestão, tudo o que houve foi um processo que vinha de outros governos e que ele não conseguiu atrapalhar. No mais, foi a sucessão de escândalos dentro do próprio governo, com gente sua. Tivemos agora a invasão do MLST ao Congresso, promovida também por gente sua, que escolheu o Legislativo para a depredação com a finalidade de enfraquecer um dos poderes da nação.
O protesto seria inaceitável, embora com lógica, se fosse dirigido ao próprio Lula. Mas, como disse um dos invasores, "Lula é dos nossos".
O que tudo isso significa? Que está em gestação uma espécie de ditador legalizado pelas urnas. Montará sua equipe com retalhos, agindo apenas diante de portas arrombadas, com notas oficiais condenando desde assaltos aos cofres públicos a assaltos a dependências da União. Um ditador só possível num país chamado Brasil.


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