São Paulo, domingo, 11 de junho de 2006 |
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ELIANE CANTANHÊDE Infiltração e hipocrisia BRASÍLIA - Quando alguma coisa
dava errado no início do governo
Lula (e vivia dando), o pretexto era
a "herança maldita". Apesar disso,
Lula surfava justamente na política
econômica, no rigor fiscal, nos programas e até nas bolsas isso e aquilo
herdados do antecessor.
No meio do governo, quando Roberto Jefferson denunciou o mensalão e pegou o Planalto, o PT e a
base aliada de jeito, a desculpa mudou para: "É apenas caixa dois" e
"somos todos iguais".
Quando o tripé do governo caiu
(Dirceu, Gushiken e, por fim, Palocci), a culpa foi individualizada. Eles
foram massacrados sozinhos, como
se não participassem de um partido
nem de um projeto de poder nem
de um governo.
Mais à frente, quando surgiram
as histórias do Lulinha, com a Telemar, e do Okamoto, com as contas
de Lula, a explicação, indignada, foi
a de que se tratava de uma "sórdida
campanha da oposição de direita,
das elites e da imprensa".
Em todos esses momentos, Lula,
o chefe, ora se sentia triste, ora indignado, ora irritado, ora "traído".
Nunca condenava ninguém. E jurava que não sabia de nada.
Agora, no fim, quando um integrante da executiva nacional do PT
lidera o MLST (financiado indiretamente pelo governo) num ataque
de vândalos ao Congresso, tenta-se
disseminar a tese de que "foram
elementos infiltrados da direita".
Não bastam as reuniões gravadas,
as frases pronunciadas, as providências tomadas, o envolvimento
direto do líder do MLST, Bruno
Maranhão, com o PT. Nada disso é
verdade? Nem cola em Lula?
A se insistir na tese da "infiltração da direita" no quebra-quebra do
Congresso Nacional, estarão rindo
da nossa cara. E, se boa parcela da
população e do eleitorado cair nessa, só haverá uma conclusão possível: uma nuvem de hipocrisia anda
anestesiando o país.
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