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Em desaceleração
Economia modera ritmo de alta no início do ano e melhora perspectiva para o controle da inflação; gasto público preocupa
A EVOLUÇÃO do PIB brasileiro no primeiro trimestre do ano, tanto
por seu ritmo como
por sua composição, foi bastante
alvissareira para o controle da
inflação.
Os números divulgados ontem
pelo IBGE ratificaram o quadro
de desaceleração que já vinha
sendo esboçado por vários outros indicadores, de abrangência
geográfica e escopo setorial mais
restritos. Em outras palavras,
confirmou-se que, considerada
em seu conjunto, nos primeiros
meses do ano a economia reduziu o seu ritmo de expansão, embora tenha mantido um nível de
atividade elevado.
A inflexão fica clara quando se
observa a taxa de crescimento
sobre o trimestre imediatamente anterior (já descontadas as
flutuações típicas de cada época
do ano). Entre o terceiro e o
quarto trimestres de 2007, o PIB
havia crescido ao ritmo anual de
6,6%, taxa que refluiu para 2,8%
na comparação do primeiro trimestre de 2008 com o trimestre
final do ano anterior.
Além do ritmo mais comedido,
a composição do crescimento revelou-se propícia à dissipação do
risco de que falte oferta de bens e
serviços para atender à demanda. O investimento, que amplia a
capacidade produtiva, voltou a
avançar a um ritmo bem superior ao do consumo. O peso do
investimento no PIB chegou a
18,3%, significativos três pontos
percentuais acima do nível verificado no ano de 2003.
Os números sobre o consumo
das famílias merecem comentário à parte. A apuração do PIB relativa ao trimestre final de 2007
havia apontado uma aceleração
súbita para um ritmo "asiático"
de alta, de 14% ao ano. Já nos primeiros meses de 2008 o consumo teria quase estagnado, crescendo 1% ao ano.
À luz das demais evidências
disponíveis, ambas as leituras
parecem enganosas (refletindo
limitações da metodologia de
apuração). Estão presentes fatores de desaceleração do consumo, com destaque para o encarecimento dos alimentos e a maior
cautela na oferta de crédito -os
bancos já não revelam a mesma
disposição para alongar os prazos das operações. Esses elementos podem moderar o ímpeto do consumo, mas não parecem capazes de interromper o
seu crescimento.
Ao lado desses aspectos positivos, os números do PIB revelaram um movimento preocupante. As despesas de consumo do
governo, que correspondem a
gastos de custeio e ao pagamento
do funcionalismo, tiveram um
salto no primeiro trimestre.
Tudo leva a crer que esse movimento concentrou-se nos Estados e municípios. A marcha do
gasto público corrente coloca em
risco a continuidade do crescimento e deveria ser contida em
todas as esferas de governo.
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