São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 2008

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Em desaceleração

Economia modera ritmo de alta no início do ano e melhora perspectiva para o controle da inflação; gasto público preocupa

A EVOLUÇÃO do PIB brasileiro no primeiro trimestre do ano, tanto por seu ritmo como por sua composição, foi bastante alvissareira para o controle da inflação.
Os números divulgados ontem pelo IBGE ratificaram o quadro de desaceleração que já vinha sendo esboçado por vários outros indicadores, de abrangência geográfica e escopo setorial mais restritos. Em outras palavras, confirmou-se que, considerada em seu conjunto, nos primeiros meses do ano a economia reduziu o seu ritmo de expansão, embora tenha mantido um nível de atividade elevado.
A inflexão fica clara quando se observa a taxa de crescimento sobre o trimestre imediatamente anterior (já descontadas as flutuações típicas de cada época do ano). Entre o terceiro e o quarto trimestres de 2007, o PIB havia crescido ao ritmo anual de 6,6%, taxa que refluiu para 2,8% na comparação do primeiro trimestre de 2008 com o trimestre final do ano anterior.
Além do ritmo mais comedido, a composição do crescimento revelou-se propícia à dissipação do risco de que falte oferta de bens e serviços para atender à demanda. O investimento, que amplia a capacidade produtiva, voltou a avançar a um ritmo bem superior ao do consumo. O peso do investimento no PIB chegou a 18,3%, significativos três pontos percentuais acima do nível verificado no ano de 2003.
Os números sobre o consumo das famílias merecem comentário à parte. A apuração do PIB relativa ao trimestre final de 2007 havia apontado uma aceleração súbita para um ritmo "asiático" de alta, de 14% ao ano. Já nos primeiros meses de 2008 o consumo teria quase estagnado, crescendo 1% ao ano.
À luz das demais evidências disponíveis, ambas as leituras parecem enganosas (refletindo limitações da metodologia de apuração). Estão presentes fatores de desaceleração do consumo, com destaque para o encarecimento dos alimentos e a maior cautela na oferta de crédito -os bancos já não revelam a mesma disposição para alongar os prazos das operações. Esses elementos podem moderar o ímpeto do consumo, mas não parecem capazes de interromper o seu crescimento.
Ao lado desses aspectos positivos, os números do PIB revelaram um movimento preocupante. As despesas de consumo do governo, que correspondem a gastos de custeio e ao pagamento do funcionalismo, tiveram um salto no primeiro trimestre.
Tudo leva a crer que esse movimento concentrou-se nos Estados e municípios. A marcha do gasto público corrente coloca em risco a continuidade do crescimento e deveria ser contida em todas as esferas de governo.


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