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A política da Aids
PELA PRIMEIRA vez a Organização Mundial da Saúde
(OMS) admite que o risco
de uma epidemia global de Aids
entre heterossexuais é bastante
reduzido e que as estratégias de
prevenção promovidas pelas
principais organizações de combate à moléstia podem ter sido
mal focadas.
Os indícios de que os números
da Aids estavam superestimados
não são novos. No final do ano
passado, a própria Unaids (a
agência da ONU para lidar com a
moléstia) corrigiu sua contabilidade e baixou a estimativa de infectados de 39,5 milhões (2006)
para 33,2 milhões (2007).
Nos últimos meses, epidemiologistas, entre eles um ex-dirigente da OMS, vêm lançando
fortes críticas ao trabalho das organizações e dos ativistas anti-Aids. Sugerem que, por força de
lobbies, foram cometidos erros
no combate à doença.
Um exemplo de enfoque equivocado seria o das campanhas
educacionais voltadas para a população geral. Exceto pela África
subsaariana, o risco de contrair
Aids numa relação heterossexual é baixo. A transmissão só
ocorre em uma de cada 500 a
1.000 cópulas com parceiro infectado. Teria feito mais sentido
investir fatias maiores do orçamento em peças publicitárias dirigidas a grupos de risco, como
homossexuais masculinos, usuários de drogas injetáveis e prostitutas e seus clientes.
Ocorre que, após as primeiras
caracterizações da Aids como
"peste gay" no início dos anos 80,
médicos e ativistas julgaram
oportuno ilidir o preconceito.
Para tanto, trataram de desconstruir a noção de grupo de risco.
Nunca é boa prática deixar que
dados científicos sejam contaminados por decisões políticas, por
mais corretas que sejam.
É fato que a Aids, por afetar um
público influente, sempre recebeu atenção desproporcional em
relação a outras doenças. Mas é
igualmente inegável que, também por força de lobbies e de
seus exageros, o mundo respondeu de forma no geral adequada
à irrupção da Aids, que, mesmo
despida de excessos retóricos,
permanece um grave problema
de saúde pública.
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