São Paulo, sábado, 11 de junho de 2011

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O dever dos credores

Crise da dívida europeia, Grécia à frente, reabre debate sobre participação privada nos prejuízos gerados pelo estouro da bolha financeira

Cresce a percepção de que será necessário buscar novos caminhos para administrar com sucesso a crise de financiamento que vários governos europeus atravessam. A bola da vez é a Grécia, que enfrenta enorme dificuldade para manter em dia seus pagamentos.
O sinal mais recente da gravidade do problema foi a declaração do governo da Alemanha -dirigida ao Banco Central Europeu, ao FMI e aos demais integrantes da zona do euro- de que os credores privados devem participar de forma direta do esforço para manter a Grécia adimplente. A sugestão, ainda vaga, é que bancos e demais detentores de títulos gregos os troquem por novos papéis, com prazos de vencimento mais dilatados.
O governo alemão reage a pressões políticas domésticas. Até o momento, a resposta às dificuldades de financiamento da Grécia vem se centrando em gigantescos empréstimos pelos países mais ricos da região (em conjunto com o FMI e o Tesouro dos EUA).
Os eleitores alemães, porém, já deram mostras, nas urnas e nas pesquisas, de que não toleram mais arcar com a conta. Sabem que os empréstimos concedidos pelo seu governo, em última instância, são custeados pelos impostos que pagam. Também incomoda o contribuinte alemão constatar que as instituições financeiras têm sido poupadas de sustentar ao menos parte do ônus criado pelos maus empréstimos que concederam no passado.
Incômodo político análogo desponta do outro lado do Atlântico. A despeito da persistência de alto desemprego e dos sinais de debilitação da atividade econômica norte-americana, o Congresso discute cortes de gastos. E o Fed (banco central dos EUA) reconhece que o quadro econômico ainda é grave, mas descarta medidas adicionais para reanimar a demanda.
O economista Paul Krugman considera que há uma paralisia na política econômica tanto nos EUA quanto na Europa e a atribui à subordinação dos governos aos interesses dos bancos e demais detentores de riqueza financeira.
Para evitar uma quebradeira generalizada no momento mais agudo da crise financeira global, os bancos foram beneficiados por gigantescas injeções de recursos públicos. Essas operações de salvamento representaram uma socialização dos prejuízos bilionários que afloraram quando se desfez a bolha financeira inflada pelo frenesi de crédito e especulação.
A contrapartida foi um violento aumento da dívida pública em vários países -inclusive nos EUA e em muitos europeus. É em nome de preservar a viabilidade dessa dívida que as autoridades aceitam e prescrevem a paralisia denunciada por Krugman.




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