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Riscos de um sucesso
O merecido apoio popular à eficiência demonstrada pela PF aumenta, no entanto, o perigo de abuso de poder
ESPETACULAR? Ninguém
negaria, certamente, este
adjetivo à Operação Satiagraha, da qual resultou
a prisão de figuras como Daniel
Dantas, Naji Nahas e Celso Pitta.
Num país ainda marcado pela
sensação de impunidade nos
chamados crimes do "colarinho
branco", a ação da Polícia Federal não haveria de surgir como
acontecimento rotineiro aos
olhos da opinião pública.
Mal surgiam, entretanto, as
primeiras notícias acerca da operação, muito do que nela havia, a
justo título, de "espetacular"
passou a ser alvo de críticas por
parte de autoridades judiciárias
e legislativas.
Não é de agora, com efeito, que
se denuncia a "espetacularização" das atividades da PF, e a
Operação Satiagraha merece ser
avaliada sob esse aspecto.
Nada justificaria, por exemplo,
o uso de algemas na detenção dos
acusados, que se entregaram
sem resistência. É difícil encontrar motivo para manter presas
pessoas que não representam
ameaça física à sociedade. Cabe
também questionar a presença
de repórteres de uma emissora
de TV no momento do flagrante,
numa aparente concessão de exclusividade jornalística.
Por outro lado, não se registraram abusos explícitos contra a
imagem privada dos acusados.
Nada que se comparasse, por
exemplo, à execração geral que
acompanhou o casal Nardoni,
quando conduzido à polícia após
o assassinato da menina Isabela.
Não há como deixar de ver exagero, portanto, no coro de protestos entoado no Senado em
torno da "espetacularização".
Sabendo-se da amplitude das
ligações do banqueiro Daniel
Dantas com o mundo parlamentar, tais críticas -ainda que teoricamente justas- perdem bastante em credibilidade. Contra
acusados tão poderosos é até natural supor que a Polícia Federal
aposte no impacto midiático positivo de suas operações para
contrapor, às pressões de bastidores, o respaldo público que
granjeia.
Não resta dúvida, entretanto,
de que o risco de abusos se agrava cada vez que uma instituição
está segura do sucesso que alcançará na opinião pública. O Judiciário obtém aplausos quando
restringe práticas políticas abominadas pelo eleitorado, como a
infidelidade partidária; ofuscam-se com isso, entretanto, os
riscos de ingerência indevida da
instituição sobre o Legislativo.
O ímpeto das autoridades policiais contra acusados na Operação Satiagraha atinge indevidamente profissionais da imprensa, tanto desta Folha como da
TV Globo, aos quais se acusa de
vazamento de informações. É da
autoridade pública, no entanto,
o dever de manter segredo sobre
inquéritos; o dever da imprensa
é informar.
Tanto quanto as garantias
constitucionais que protegem os
acusados, também o direito dos
cidadãos a informação de óbvio
interesse público não pode ser
vitimado em nome de um rigor
policial que, merecendo aplauso,
exige também máxima cautela
para não degenerar, pelo próprio
apoio que aufere, em poder discricionário e sem controle.
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