São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 2008

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Editoriais

Adiamento global

A REUNIÃO do G8 no Japão trouxe avanço infinitesimal nas negociações sobre a mudança climática. Os países ricos reconheceram finalmente a necessidade de adotar metas de redução dos gases do efeito estufa em 50% até 2050. Antes, o G8 só se comprometia a "considerar seriamente" o objetivo.
A União Européia assume o compromisso de cortar 20% até 2020 e conseguiu arrastar os EUA para junto do restante do G8. Em troca, o presidente Bush fez vingar o princípio de que economias emergentes (como China, Índia e Brasil) também devem adotar metas. Bush sabotou quanto pôde as negociações sobre clima, mas nesse aspecto a ciência está de seu lado.
A meta "50% em 2050" é fisicamente inatingível sem os países emergentes. Em quatro décadas, eles responderão pela maior parte das emissões. Mas contra-argumentam, com razão, que 62% do estoque de gases do efeito estufa na atmosfera foram emitidos por países ricos.
Tal impasse tornou ainda mais aguado outro comunicado conjunto, apresentado pelas 16 "principais economias". Nenhuma meta específica foi mencionada. Os emergentes exigem que os ricos cortem algo entre 25% e 40% das emissões já em 2020.
É o caminho mais justo, embora pareça improvável que um novo acordo saia até dezembro de 2009, data-limite para substituir o moribundo Protocolo de Kyoto. A lentidão do processo, porém, não é desculpa para adiar providências. Já existe tecnologia para cortar de 10% a 20% das emissões mundiais. Falta é transferi-la e financiar a adoção.
No Brasil, quarto maior emissor do mundo, o caminho óbvio é estabilizar o desmatamento na Amazônia. Pelo menos dois terços de nossas emissões vêm dessa destruição inútil, contribuição que o presidente Lula omitiu ao falar do problema em Hokkaido.


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