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IGOR GIELOW
O Joffre de cada um
BRASÍLIA - O governo Lula adora
o perigo. Apostou na instalação e
esvaziamento da CPI da Petrobras,
em tese a partir da próxima terça.
O raciocínio, se me permitem a
gentileza, nas hostes planalto-peemedebistas é o de que a CPI será
instalada e o recesso parlamentar a
esfriará. Na dúvida, coalham a comissão com aliados. Pode funcionar, haja visto o que aconteceu com
tantas iniciativas malfadadas, como
a CPI das ONGs.
A favor deles está o fato de que a
oposição tem pouquíssima vontade
de investigar a Petrobras. Querem,
assim como a anódina bancada petista na Casa, jogar para a plateia.
Os demo-tucanos têm medo tanto
quanto petistas e outros do que pode sair de uma boa apuração sobre
esquemas envolvendo fornecedoras da Petrobras. Não se ganha eleição com ideologia, e simples suspeitas sobre financiamento de campanha são palavras proibidas.
Mas CPI, como reza o ditado candango, não se sabe como acaba. E
com um ano eleitoral à frente, o potencial de revelações envolvendo a
Petrobras não é nada desprezível.
A empresa é uma espécie de Gazprom petista. À semelhança da gigante estatal russa do gás, ela está
imiscuída em diversos níveis da vida pública brasileira. Seu dinheiro
está espalhado de plataformas de
petróleo a coretos de praça no interior. E seu aparelhamento espelha a
vontade oficial. Logo, um risco em
sua imagem é um arranhão na candidatura governista em 2010.
No meio de tudo, José Sarney,
que teve uma tarde tranquila ontem. O cacique emula Joseph "Papa" Joffre, o general francês famoso
por manter a calma, e os horários de
refeição, no auge das crises do começo da Primeira Guerra Mundial.
Está impávido, cantando vitória.
Mas Joffre, ainda que louvado
como símbolo, caiu em 1916 por
sua incompetência estratégica e tática. Irá Sarney repeti-lo? Se sim,
quem irá com ele?
igor.gielow@grupofolha.com.br
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