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ABUSOS E HIPOCRISIA
A CPI do Banestado foi instalada para apurar operações de
evasão e lavagem de dinheiro envolvendo a utilização das contas CC5,
por meio das quais podem-se enviar
legalmente recursos para o exterior.
A comissão conseguiu estabelecer
responsabilidades em casos de gestão financeira fraudulenta e já rastreou uma série de operações irregulares. Lamentavelmente, porém, os
responsáveis pela condução das investigações têm atuado de maneira
abusiva e equivocada ao determinar,
sem justificativas claras e específicas,
a quebra coletiva de sigilos bancários, fiscais e telefônicos de uma
grande quantidade de pessoas.
Os problemas são de duas ordens.
Do ponto de vista jurídico, corre-se o
risco de pôr a perder parte importante do trabalho investigativo, pois o
Supremo Tribunal Federal poderá
invalidar eventuais provas colhidas
ao estabelecer, como fez em outras
ocasiões, a inexistência de razão objetiva e definida para a devassa.
Do ponto de vista político, a CPI
desmoraliza-se ao reunir um arquivo
indiscriminado de informações cuja
utilização apenas os ingênuos podem supor que ficará resguardada
pelo sigilo imposto ao inquérito parlamentar. Sendo assim, o que deveria
ser uma investigação responsável
pode se transformar num serviço
prestado a sórdidos organizadores
de dossiês e chantagistas de plantão.
Por fim, esse padrão de comportamento acabou por propiciar uma
oportunidade para o governo federal
tentar sair da defensiva e responsabilizar a CPI pelo vazamento de informações sobre os supostos problemas fiscais dos presidentes do Banco
Central, Henrique Meirelles, e do
Banco do Brasil, Cássio Casseb. Obviamente que ambos, bem como o
Executivo, têm o direito de recorrer
aos expedientes cabíveis para se defender e investir contra o desrespeito
ao sigilo que deve presidir as CPIs.
Sintomaticamente, no entanto, o
petismo, que sempre promoveu vazamentos e cobrou explicações ao
menor sinal de irregularidade, agora
prefere a hipocrisia: aposta contra a
CPI e procura evitar que os dois altos
funcionários compareçam ao Congresso para prestar esclarecimentos.
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