São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2005

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CONEXÃO TUCANA

As declarações do publicitário Marcos Valério à CPI, na terça-feira, trouxeram mais elementos sobre a amplitude do esquema de repasses ilícitos coordenado por ele. Já se sabia que o "valerioduto" data de antes do governo petista, tendo sido utilizado por políticos do PSDB e do PFL mineiros. Agora, Valério apresentou uma lista com 75 nomes ligados aos tucanos que teriam sido beneficiados em 1998, durante a campanha à reeleição do então governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo. De acordo com o depoente, o total de empréstimos para o candidato, que hoje ocupa a presidência do PSDB, foi de R$ 9 milhões.
A circunstância das transferências não é menos escusa. Valério afirmou que obteve os empréstimos no Banco Rural a pedido de um intermediário de Clésio Andrade, ex-presidente do PFL de Minas e candidato a vice-governador na chapa de Azeredo. E, da mesma forma que fez com o PT, apresentou como garantia para a operação bancária um contrato de publicidade -dessa vez, com a Secretaria de Comunicação de Minas Gerais. Um outro detalhe chama a atenção: antes de candidatar-se, Andrade foi sócio do publicitário na agência SMPB.
O cenário se complica diante das declarações de que, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, as agências de Marcos Valério eram responsáveis pelas contas dos Correios, da Eletronorte e dos ministérios dos Transportes e do Trabalho. E piora em face da evidência, revelada por esta Folha em novembro de 2000, de que a SMPB fez doação de R$ 50 mil não-declarados à campanha para a reeleição de FHC em 1998.
Ao que tudo indica, o PT foi muito além de usar recursos de caixa dois para campanha -e isso não pode ser perdido de vista pelas CPIs. Porém, mais do que "desviar o foco do problema", como argumentam as lideranças do PSDB, aprofundar as investigações sobre os vínculos entre o "valerioduto" e os demais partidos é uma forma de entender sua verdadeira dimensão. Só então será possível aplicar de modo equânime as punições cabíveis e conceber a profundidade das reformas que urge propor.


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