São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 2006 |
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ELIANE CANTANHÊDE Mar de lama BRASÍLIA - Quando a gente acha
que já viu tudo, descobre que ainda
não viu nada. O escândalo dos sanguessugas é o maior, mais escabroso e o mais nojento de que se tem
história, porque envolve 72 parlamentares não apenas num mar de
lama mas num mar de lama sujo
com o sangue justamente dos brasileiros mais desvalidos -os que precisam da saúde pública.
O número de deputados atinge
12,2% do Congresso, o que corresponde à bancada feminina inteira
da Câmara e do Senado, ou até mais.
Há acusados de todos os tipos, de
todos os partidos, de todos os Estados. Mesmo num país tão farto em
escândalos, não há precedentes -o
que é profundamente assustador.
Só mesmo à custa de muito boa
vontade e perseverança se pode enxergar algo positivo em tudo isso.
Vamos lá: escândalos sempre houve, o lado bom é que eles estão cada
vez mais emergindo da lama, vindo
à luz do dia e prenunciando punições. Para um dia, quem sabe.
Se depender de um Congresso
que absolveu os seus mensaleiros e
que tem mais de 10% dos seus indiciados no fórum político, não se deve esperar muita coisa. Aliás, não se
deve esperar nada.
Mas há outras instâncias de punição: os próprios partidos, os formadores de opinião, os movimentos de
voto consciente, a escola dos filhos,
as amigas e amigos dos maridos e
das mulheres e, enfim, sua excelência, o eleitor.
Agora, é rezar aos céus para que
essa teia de possibilidades puna
quem tem que punir. E que, como
em Rondônia, a descoberta dos escândalos e dos escandalosos atinja
os outros Poderes. Já que é para tirar a limpo, que se vá além do Congresso. Cadê os intermediários? Cadê os prefeitos? Cadê a Justiça?
Há sanguessugas por toda parte,
de várias espécies. Que não se catem apenas os da Câmara, do Senado e de Brasília. Mãos à obra!
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