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FERNANDO GABEIRA
Dia e hora
NÃO PENSAVA mais em utilizar esse espaço para falar da
crise aérea. Recebi um e-mail encorajador do pai de uma das
vítimas da TAM. Em homenagem a
essa família, prossigo com algumas
propostas, sem nenhuma pretensão de ser o dono da verdade.
É possível marcar dia para a solução da crise? Na minha opinião,
sim. Poderíamos determinar algo
como o meio de 2008. Nesse época,
o Brasil sofrerá uma inspeção regular da Icao. Essa inspeção poderá
nos dizer se está tudo bem, onde e
como precisamos melhorar.
Até lá, já teríamos dados alguns
passos decisivos. É razoável, por
exemplo, que o dinheiro pago em
taxas aeroportuárias, contidas nas
passagens áreas, seja usado na segurança do tráfico. Como o razoável nem sempre se impõe, será preciso uma lei para garanti-lo.
A Aeronáutica tem de resolver o
problema dos controladores. Se
sargentos não podem ganhar mais,
que tal promovê-los dentro de um
plano que valorize o mérito? Além
disso, por que não fazer como outros países, que licenciam universidades para ministrar o curso de
controladores?
Este Saito parece ser um bom
homem, mas lento e defensivo. A
Aeronáutica foi sempre uma força
de gente audaciosa. Outro dia, elogiei o coronel Veloso. A esquerda
não gostou: era meio golpista. Veloso desbravou os céus da Amazônia, tornou possível a navegação
regular ali. Serra do Cachimbo é
uma homenagem a ele. O pouso de
emergência do Legacy, depois de
atingir a asa do avião da Gol, foi na
pista do Cachimbo.
É preciso afirmar que não se voará mais no Brasil com o reverso travado. E que, a partir de agora, é
obrigatório o sinal sonoro indicando que os manetes não estão na posição correta. Airbus e TAM podem
não gostar. E daí?
É preciso uma boa Anac. Os
atuais diretores estão agarrados ao
osso. Dizem que sua saída vai desorganizar tudo. Não é verdade. Há
gente com boa capacidade técnica
abaixo deles.
Agora, vai haver juizado para determinar o direito dos usuários, sobretudo indenização, em caso de
atraso. O mais importante é a informação. Com tantos comunicadores no Brasil, como explicar esse
colapso?
Segundo John Gray, Thatcher
quis reduzir o papel do Estado e
acabou tornando-o mais intruso.
Lula quis ampliar o papel do Estado e acabou tornando-o mais ausente. A história é cheia de pequenas armadilhas. Nelson Rodrigues
dizia que temos nos esforçado, ao
longo dos séculos, para manter o
país subdesenvolvido. Que tal perdermos este zelo?
assessoria@gabeira.com.br
FERNANDO GABEIRA escreve aos sábados nesta
coluna.
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