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CLÓVIS ROSSI
Antes, a neta: agora, a filha
SÃO PAULO - Ofereço, de graça, ao
senador Sérgio Guerra, presidente
nacional do PSDB, uma defesa infalível para a eventualidade de ele vir
a ser denunciado ao Conselho de
Ética por ter pago viagem da filha
aos Estados Unidos com dinheiro
público.
É grátis porque se trata de cópia
da defesa que o presidente do Senado, José Sarney, usou para justificar
a sua interferência para empregar o
namorado da neta às custas do meu,
do seu, do nosso bolso.
Basta que Guerra diga, como Sarney, que pai nenhum se recusaria a
atender a um pedido da filha para
acompanhá-lo no delicado momento de uma consulta médica nos Estados Unidos (a propósito, o Senado não tem um belo corpo médico,
também pago com o meu, o seu, o
nosso dinheirinho?).
Se o argumento de Sarney serviu
para que todos os pedidos de investigação fossem arquivados por
aquele sub do sub do sub que preside o Conselho de Ética, por que
Guerra também não seria sumariamente absolvido?
Aliás, o sub do sub do sub acaba
de inventar um artigo novo na praça. Antes, havia condenação sumária; agora, há absolvição sumária.
Investigação, que seria o correto,
nadica de nada.
Repetir a, digamos, "defesa Sarney" teria tudo a ver. Afinal o, digamos, "espírito Guerra" é idêntico. A
qualquer mortal comum jamais
ocorreria usar dinheiro público para levar a filha para viajar. Para um
senador é o normal.
Mesmo que, em uma urgência urgentíssima, o senador tivesse que
fazer a filha viajar por conta do Senado, imediatamente depois ele
correria, não fosse o "espírito Sarney/Guerra", a devolver o dinheiro
aos donos (eu, você, todos nós).
Mas, como senador é um animal
acima dessas miudezas, Guerra diz
que não devolveu nem vai devolver
porque não foi cobrado. Aposto que
o sub do sub do sub aceita também
esse argumento.
crossi@uol.com.br
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