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MARCOS NOBRE
Dedos, anéis
e Marina
EM MEIO À bandalheira da década de 1980, foi escolhido
um presidente por eleição direta, o que não acontecia havia
quase 30 anos. O afastamento de
Collor em 1992 instaurou uma expectativa de controle direto do sistema político, em que o eleitorado
poderia tirar mandatos a qualquer
momento.
A partir da eleição de FHC, o impeachment desapareceu pouco a
pouco do horizonte. Com o tempo,
a expectativa de controle direto foi
substituída por uma espécie de
controle da "opinião pública", entendido como uma pressão incessante da mídia sobre uma determinada figura política. Mesmo o Judiciário, o Ministério Público e as
polícias se tornaram forças auxiliares desse novo controle indireto,
em que se exigia pelo menos a entrega de anéis para a conservação
dos dedos.
Muitos ministros caíram assim.
Mas esse tipo de controle mostrou
mesmo seu poderio ao atingir o Senado. A cassação de Luiz Estevão
foi o marco inicial, em junho de
2000. Em maio de 2001, renunciaram ACM e José Roberto Arruda.
No mesmo ano, o caso paradigmático de Jader Barbalho: licenciou-se da presidência do Senado, renunciou ao cargo e, em seguida, ao
mandato.
Em 2005, foi a vez de a Câmara
mostrar que uma mudança importante estava em curso. Não pelas
cassações de Roberto Jefferson e
de José Dirceu, mas pela quantidade de parlamentares que renunciaram ou foram absolvidos no rastro
do "mensalão". O episódio Renan
Calheiros, em 2007, marcou uma
nova etapa: renunciou à presidência do Senado, mas não ao mandato. Nova mudança no atual episódio Sarney: tudo indica que não vai
renunciar a coisa nenhuma.
Não que controlar o sistema político por meio de uma mídia oligopolizada seja algo a comemorar.
Mas o episódio Sarney mostra que
até mesmo esse controle precário e
indireto pela mídia está desaparecendo das mãos do eleitorado.
Pode até haver quem ache saudável essa redução do controle do
sistema político pelo eleitorado ao
momento das eleições. Mas democracia nenhuma se faz apenas
com eleições. As próprias movimentações do eleitorado para 2010
dão prova disso. Quanto mais o
sistema político procura se fechar
em si mesmo, mais rachaduras
aparecem.
Lula tenta reduzir o campo eleitoral a um plebiscito sobre seu governo, a uma disputa entre sua candidata e o candidato do PSDB. Aparece Ciro Gomes. Lula articula de
todas as maneiras para neutralizá-lo. Sem sucesso até agora. Aparece
Marina Silva. Difícil imaginar o que
Lula poderia fazer. O sistema político enclausurado que se cuide. O
que está em jogo não são mais dedos e anéis.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras
nesta coluna.
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