São Paulo, quarta-feira, 11 de agosto de 2010

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ANTONIO DELFIM NETTO

O desemprego nos EUA

A recuperação da economia americana tem se desacelerado. Parece estar convergindo no curto prazo para um ritmo de crescimento abaixo da velocidade de "cruzeiro", qualquer coisa parecida com 3% ao ano. O crescimento anualizado (dessasonalizado) foi o revelado no gráfico abaixo:

A diferença entre o primeiro e o segundo trimestres de 2010 revela uma ligeira queda do consumo privado e um substancial aumento do investimento bruto (com forte diminuição dos estoques), acompanhado de uma ampliação do dispêndio do governo.
O fato mais importante na retração estatística do PIB foi um forte aumento das exportações líquidas (importações de bens e serviços maiores do que as exportações).
O maior problema de Obama, entretanto, é a resistência do nível de desemprego às medidas de estímulo: 7 a cada 10 americanos (diante de 27 milhões de desempregados) não "acreditam" na eficácia da ação de seu governo para reduzi-lo. Se compararmos as quatro últimas recessões americanas, esta não só foi a mais profunda como a recuperação do nível de emprego tem sido a mais lenta.
Os números são pouco animadores. O nível real do PIB (que passou por um mínimo depois de 21 meses do início da recessão) está agora muito próximo do valor original, enquanto o nível de desemprego de 4,6% em 2007 cresceu para 5,8% em 2008 e atingiu 9,3% em 2009. Está agora em 9,5%!
Esses fatos sugerem dois comentários. O primeiro é que a simultânea verificação de um aumento do desemprego com o aumento das importações de bens e serviços aumenta as pressões sindicais para políticas protecionistas. Trata-se de um equívoco. Em todos os países, o grosso das importações são "fatores de produção": são complementos essenciais para a produção do PIB, como é o caso da energia importada pelos EUA.
O segundo é que os números sugerem que o programa de recuperação, apesar de custoso, é olhado com muita suspeita pelos consumidores e pelo setor produtivo. Na opinião destes, tratou-se melhor quem gerou a crise (o setor financeiro) do que os que a estão pagando (o setor produtivo)! E, pior, agora fala-se em aumento de impostos.
Se Obama não for capaz de recuperar a credibilidade entre a maioria da sociedade (hoje ele tem apoio de pouco mais de 40%) e reconstruir a confiança dos agentes privados (banqueiros, empresários e trabalhadores) para pôr a rodar o "circuito econômico", o PIB continuará a crescer mediocremente e o desemprego levará muito tempo para retornar aos aceitáveis 4% a 5%.


ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.

contatodelfimnetto@uol.com.br


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