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ANTONIO DELFIM NETTO
O desemprego nos EUA
A recuperação da economia
americana tem se desacelerado. Parece estar convergindo
no curto prazo para um ritmo
de crescimento abaixo da velocidade de "cruzeiro", qualquer coisa parecida com 3%
ao ano. O crescimento anualizado (dessasonalizado) foi o
revelado no gráfico abaixo:
A diferença entre o primeiro
e o segundo trimestres de 2010
revela uma ligeira queda do
consumo privado e um substancial aumento do investimento bruto (com forte diminuição dos estoques), acompanhado de uma ampliação
do dispêndio do governo.
O fato mais importante na
retração estatística do PIB foi
um forte aumento das exportações líquidas (importações
de bens e serviços maiores do
que as exportações).
O maior problema de Obama, entretanto, é a resistência
do nível de desemprego às medidas de estímulo: 7 a cada 10
americanos (diante de 27 milhões de desempregados) não
"acreditam" na eficácia da
ação de seu governo para reduzi-lo. Se compararmos as
quatro últimas recessões americanas, esta não só foi a mais
profunda como a recuperação
do nível de emprego tem sido
a mais lenta.
Os números são pouco animadores. O nível real do PIB
(que passou por um mínimo
depois de 21 meses do início
da recessão) está agora muito
próximo do valor original, enquanto o nível de desemprego
de 4,6% em 2007 cresceu para
5,8% em 2008 e atingiu 9,3%
em 2009. Está agora em 9,5%!
Esses fatos sugerem dois comentários. O primeiro é que a
simultânea verificação de um
aumento do desemprego com
o aumento das importações de
bens e serviços aumenta as
pressões sindicais para políticas protecionistas. Trata-se de
um equívoco. Em todos os países, o grosso das importações
são "fatores de produção": são
complementos essenciais para a produção do PIB, como é o
caso da energia importada pelos EUA.
O segundo é que os números sugerem que o programa
de recuperação, apesar de
custoso, é olhado com muita
suspeita pelos consumidores
e pelo setor produtivo. Na opinião destes, tratou-se melhor
quem gerou a crise (o setor financeiro) do que os que a estão pagando (o setor produtivo)! E, pior, agora fala-se em
aumento de impostos.
Se Obama não for capaz de
recuperar a credibilidade entre a maioria da sociedade (hoje ele tem apoio de pouco mais
de 40%) e reconstruir a confiança dos agentes privados
(banqueiros, empresários e
trabalhadores) para pôr a rodar o "circuito econômico", o
PIB continuará a crescer mediocremente e o desemprego
levará muito tempo para retornar aos aceitáveis 4% a 5%.
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às
quartas-feiras nesta coluna.
contatodelfimnetto@uol.com.br
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