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JUROS DE LONGO PRAZO
A redução dos juros básicos
pelo Banco Central reabriu a
discussão sobre qual seria o "nível de
equilíbrio" da taxa de juros de curto
prazo da economia brasileira, bem
como sobre os mecanismos para
alongar os prazos dos títulos de dívida pública e privada.
Em princípio, a taxa de juros de
curto prazo deveria corresponder à
taxa de juros externa acrescida da expectativa de desvalorização cambial e
do risco-país. Essa taxa remuneraria
os capitais em proporção suficiente
para protegê-los contra a inflação interna e externa.
No Brasil, no entanto, a taxa de juros de curto prazo representa uma
espécie de "âncora" volátil da confiança na capacidade de pagamento
da dívida pública, que é girada com
risco relativamente baixo, constituindo-se no principal instrumento
de reserva de valor utilizado por
agentes econômicos.
Apenas o BNDES consegue praticar uma taxa de juros de longo prazo
na economia brasileira (situada em
12% ao ano), pois conta com fontes
de recursos mais estáveis, com destaque para o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Para que surgisse uma taxa de juros
de longo prazo na economia, seria
preciso que existissem mecanismos
de financiamento de longo prazo da
dívida pública e privada, ou seja, um
mercado para títulos, certificados de
recebíveis, debêntures etc.
A reforma da Previdência, que prevê a criação de novos fundos, pode
vir a estimular a expansão dos agentes capazes de carregar esses novos
instrumentos. Os fundos de previdência complementar já detêm um
estoque de poupança financeira de
R$ 207,7 bilhões (15% do PIB), constituído basicamente em títulos públicos. O desenvolvimento de um amplo mercado secundário desses novos papéis exigiria, no entanto, um
sistema financeiro mais ativo, capaz
de zelar pela liquidez e aprofundamento do mercado de capitais.
Uma taxa de juros de longo prazo,
portanto, não será fruto de fórmulas
econométricas ou decretos. Para caminhar nessa direção seria crucial reduzir a dependência do Tesouro Nacional em relação aos agentes financeiros (bancos e fundos de pensão)
que carregam a dívida pública de curto prazo. Isso requer transformações
na capacidade do Estado brasileiro
de criar padrões de receita e de gasto
sustentáveis no futuro, dando assim
lastro aos títulos de dívida de prazo
mais longo.
Os primeiros passos para tanto poderiam ser a redução substancial da
taxa de juros Selic, o alongamento
dos prazos dos títulos e a ampliação
da participação dos papéis pré-fixados no estoque da dívida pública.
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