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São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Na praia do lugar-comum

CANCÚN - É cada vez mais difícil fugir da sensação de que governantes e a burocracia global falam para si próprios.
Os discursos se repetem, as promessas também, o diagnóstico dos problemas idem. Mas de soluções, que seria bom, há muito pouco.
A cerimônia inaugural da 5ª Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio, ontem, foi mais um desses exercícios.
Coube ao presidente mexicano Vicente Fox fazer o papel de crítico moderado da globalização: "Precisamos assegurar que a globalização não exacerbe as desigualdades".
Sempre há alguém para fazer o que os argentinos chamam de "saludo a la bandera" em relação aos contestatários da globalização. Fox, de novo: "Devemos ouvir os grupos que, legitimamente, defendem alternativas econômicas diferentes."
E, no contexto da OMC, sempre há uma catarata de discursos sugerindo que os países ricos derrubem as barreiras que prejudicam os países pobres. Ontem, coube a Luis Ernesto Derbez, ministro mexicano do Exterior e, como anfitrião, presidente da conferência:
"Os subsídios, internos como externos, devem ser eliminados ou reduzidos substancialmente para que os países em desenvolvimento possam aproveitar as vantagens comparativas que têm na produção agrícola".
Como é óbvio, há também uma sequência de declarações de amor ao livre comércio, tido como uma espécie de panacéia universal.
Ressalve-se, nessa cacofonia de coisas já ditas e jamais implementadas, o discurso do brasileiro Rubens Ricupero, falando em nome de Kofi Annan, secretário-geral da ONU.
"A liberalização do comércio não é a panacéia para os países em desenvolvimento. (...) É evidente que tem de ser gerida com cuidado, no marco de estratégias gerais de desenvolvimento que abarquem a saúde, a educação, o fortalecimento do papel da mulher, o Estado de Direito e muitos outros aspectos".
Pena que o bom senso dos Ricuperos suma no mar do lugar-comum.


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