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CLÓVIS ROSSI
Na praia do lugar-comum
CANCÚN - É cada vez mais difícil fugir da sensação de que governantes e
a burocracia global falam para si
próprios.
Os discursos se repetem, as promessas também, o diagnóstico dos problemas idem. Mas de soluções, que
seria bom, há muito pouco.
A cerimônia inaugural da 5ª Conferência Ministerial da Organização
Mundial do Comércio, ontem, foi
mais um desses exercícios.
Coube ao presidente mexicano Vicente Fox fazer o papel de crítico moderado da globalização: "Precisamos
assegurar que a globalização não
exacerbe as desigualdades".
Sempre há alguém para fazer o que
os argentinos chamam de "saludo a
la bandera" em relação aos contestatários da globalização. Fox, de novo:
"Devemos ouvir os grupos que, legitimamente, defendem alternativas
econômicas diferentes."
E, no contexto da OMC, sempre há
uma catarata de discursos sugerindo
que os países ricos derrubem as barreiras que prejudicam os países pobres. Ontem, coube a Luis Ernesto
Derbez, ministro mexicano do Exterior e, como anfitrião, presidente da
conferência:
"Os subsídios, internos como externos, devem ser eliminados ou reduzidos substancialmente para que os
países em desenvolvimento possam
aproveitar as vantagens comparativas que têm na produção agrícola".
Como é óbvio, há também uma sequência de declarações de amor ao livre comércio, tido como uma espécie
de panacéia universal.
Ressalve-se, nessa cacofonia de coisas já ditas e jamais implementadas,
o discurso do brasileiro Rubens Ricupero, falando em nome de Kofi Annan, secretário-geral da ONU.
"A liberalização do comércio não é
a panacéia para os países em desenvolvimento. (...) É evidente que tem
de ser gerida com cuidado, no marco
de estratégias gerais de desenvolvimento que abarquem a saúde, a educação, o fortalecimento do papel da
mulher, o Estado de Direito e muitos
outros aspectos".
Pena que o bom senso dos Ricuperos suma no mar do lugar-comum.
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