São Paulo, terça-feira, 11 de setembro de 2007

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A celebridade dos genes

SETE ANOS depois do estardalhaço midiático desencadeado com a soletração do genoma humano, a genética volta a ser notícia de destaque. Não tanto por começar a cumprir as promessas e expectativas de tratamentos revolucionários para males antigos e devastadores como o câncer, e sim para relançá-las -agora com recurso ao genoma de celebridades.
Semanas atrás veio a público que James Watson, co-descobridor da estrutura em hélice dupla da molécula de DNA (com Francis Crick, em 1953), aceitou ter seus próprios genes transcritos e divulgados (com exceção daqueles associados com algumas patologias). Watson havia sido o primeiro diretor do Projeto Genoma Humano (PGH), um dos dois grupos que apresentou a seqüência pioneira em 2000. Notabilizou-se por defender verbas para o PGH assinalando seu rendimento terapêutico futuro.
Agora foi publicado, sem restrições, o genoma de outra celebridade da área, Craig Venter. O controvertido pesquisador liderou a equipe reunida em torno da empresa Celera, que, também no ano 2000, anunciou ter completado um primeiro seqüenciamento. Com as inovações técnicas que introduziu e a competição em que se engajou com o PGH, Venter é tido como um dos principais responsáveis pela antecipação da soletração do genoma humano (originalmente prevista para 2005).
Desde então, a genômica viu erodir-se parte de seu charme, pois os medicamentos revolucionários tardam a se materializar. Em grande medida, esse refluxo de prestígio decorre do exagero nas expectativas associadas com o potencial curativo da pesquisa. Hoje, sua utilidade ainda se concentra mais no refinamento de diagnósticos do que na terapêutica, e não é fácil atinar como o narcisismo genético de personalidades possa fazê-la avançar.


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