|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A celebridade dos genes
SETE ANOS depois do estardalhaço midiático desencadeado com a soletração do
genoma humano, a genética volta a ser notícia de destaque. Não
tanto por começar a cumprir as
promessas e expectativas de tratamentos revolucionários para
males antigos e devastadores como o câncer, e sim para relançá-las -agora com recurso ao genoma de celebridades.
Semanas atrás veio a público
que James Watson, co-descobridor da estrutura em hélice dupla
da molécula de DNA (com Francis Crick, em 1953), aceitou ter
seus próprios genes transcritos e
divulgados (com exceção daqueles associados com algumas patologias). Watson havia sido o
primeiro diretor do Projeto Genoma Humano (PGH), um dos
dois grupos que apresentou a seqüência pioneira em 2000. Notabilizou-se por defender verbas
para o PGH assinalando seu rendimento terapêutico futuro.
Agora foi publicado, sem restrições, o genoma de outra celebridade da área, Craig Venter. O
controvertido pesquisador liderou a equipe reunida em torno da
empresa Celera, que, também no
ano 2000, anunciou ter completado um primeiro seqüenciamento. Com as inovações técnicas que introduziu e a competição em que se engajou com o
PGH, Venter é tido como um dos
principais responsáveis pela antecipação da soletração do genoma humano (originalmente prevista para 2005).
Desde então, a genômica viu
erodir-se parte de seu charme,
pois os medicamentos revolucionários tardam a se materializar.
Em grande medida, esse refluxo
de prestígio decorre do exagero
nas expectativas associadas com
o potencial curativo da pesquisa.
Hoje, sua utilidade ainda se concentra mais no refinamento de
diagnósticos do que na terapêutica, e não é fácil atinar como o
narcisismo genético de personalidades possa fazê-la avançar.
Texto Anterior: Editoriais: Conclave no Senado Próximo Texto: Helsinque - Clóvis Rossi: A boa vida em Liliput Índice
|