São Paulo, sexta-feira, 11 de setembro de 2009

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Em parafuso

Logo desmentido, anúncio da compra dos caças franceses se inscreve na lista das gafes do presidente Lula

DECOLAM , num espetáculo admirável de coordenação e ímpeto, os jatos da esquadrilha. Inclinam-se para um lado, arrojam-se na direção oposta, mergulham, arremetem. Sempre são admiráveis os shows de acrobacia aérea, ainda mais se homenageiam, como ocorreu neste Sete de Setembro, um país amigo.
Numa cortesia com o presidente Sarkozy, convidado de honra da cerimônia, os aviões riscaram no céu jatos de fumaça com as cores da França.
Talvez empolgado pela emissão dos gases tricolores, o presidente Lula fez no mesmo dia um anúncio extemporâneo. Não se contentou em consagrar o duvidoso movimento de compras militares já acertado com Sarkozy.
O Brasil iria comprar também, declarou o Planalto, 36 aviões de caça franceses, ao custo de até R$ 10 bilhões. No mesmo dia, revelou-se que o primeiro escalão do governo federal não apresentava sobre o assunto a mesma coordenação da esquadrilha acrobática.
Coube ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, dar o dito pelo não dito. Afinal, os estudos técnicos da Aeronáutica para a aquisição de novos caças ainda estão para ser concluídos. Além dos "Rafale" franceses, estão sob exame os F-18 americanos e os Gripen da Suécia.
"O que há", disse Amorim, "é uma decisão de iniciar uma negociação com um fornecedor". Dissipada a tênue cortina de fumaça diplomática, percebe-se que a compra anunciada por Lula não é uma compra, nem deveria ter sido anunciada.
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, somou seus esforços no urgente recuo tático: disse que continua o processo de seleção entre os três participantes.
O "looping" governista prosseguiu com o deputado Maurício Rands (PT-PE), ex-líder do partido. Em entrevista à rádio CBN, na quarta, o petista defendeu os aviões suecos. No mesmo dia, os EUA afirmaram a disposição de transferir tecnologia -vantagem, dizia o Planalto, que só os franceses ofereciam- caso os seus F-18 sejam eleitos.
Enquanto a FAB dá todos os sinais de que a seleção continua, com os três competidores ajustando suas propostas, seu comandante, brigadeiro Juniti Saito, diz que a precipitação do Planalto não passou de uma falha de interpretação "da imprensa".
O presidente brasileiro parece inclinado a cometer gafes nas relações internacionais. Fica na memória seu imediato endosso à suspeitíssima vitória eleitoral do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad -ou a intenção de "convocar" Barack Obama para uma reunião na América do Sul.


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