|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Em parafuso
Logo desmentido, anúncio da compra dos caças franceses se inscreve na lista das
gafes do presidente Lula
DECOLAM , num espetáculo admirável de
coordenação e ímpeto,
os jatos da esquadrilha. Inclinam-se para um lado,
arrojam-se na direção oposta,
mergulham, arremetem. Sempre
são admiráveis os shows de acrobacia aérea, ainda mais se homenageiam, como ocorreu neste Sete de Setembro, um país amigo.
Numa cortesia com o presidente Sarkozy, convidado de
honra da cerimônia, os aviões
riscaram no céu jatos de fumaça
com as cores da França.
Talvez empolgado pela emissão dos gases tricolores, o presidente Lula fez no mesmo dia um
anúncio extemporâneo. Não se
contentou em consagrar o duvidoso movimento de compras militares já acertado com Sarkozy.
O Brasil iria comprar também,
declarou o Planalto, 36 aviões de
caça franceses, ao custo de até R$
10 bilhões. No mesmo dia, revelou-se que o primeiro escalão do
governo federal não apresentava
sobre o assunto a mesma coordenação da esquadrilha acrobática.
Coube ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim,
dar o dito pelo não dito. Afinal, os
estudos técnicos da Aeronáutica
para a aquisição de novos caças
ainda estão para ser concluídos.
Além dos "Rafale" franceses, estão sob exame os F-18 americanos e os Gripen da Suécia.
"O que há", disse Amorim, "é
uma decisão de iniciar uma negociação com um fornecedor".
Dissipada a tênue cortina de fumaça diplomática, percebe-se
que a compra anunciada por Lula não é uma compra, nem deveria ter sido anunciada.
O ministro da Defesa, Nelson
Jobim, somou seus esforços no
urgente recuo tático: disse que
continua o processo de seleção
entre os três participantes.
O "looping" governista prosseguiu com o deputado Maurício
Rands (PT-PE), ex-líder do partido. Em entrevista à rádio CBN,
na quarta, o petista defendeu os
aviões suecos. No mesmo dia, os
EUA afirmaram a disposição de
transferir tecnologia -vantagem, dizia o Planalto, que só os
franceses ofereciam- caso os
seus F-18 sejam eleitos.
Enquanto a FAB dá todos os sinais de que a seleção continua,
com os três competidores ajustando suas propostas, seu comandante, brigadeiro Juniti Saito, diz que a precipitação do Planalto não passou de uma falha de
interpretação "da imprensa".
O presidente brasileiro parece
inclinado a cometer gafes nas relações internacionais. Fica na
memória seu imediato endosso à
suspeitíssima vitória eleitoral do
presidente iraniano Mahmoud
Ahmadinejad -ou a intenção de
"convocar" Barack Obama para
uma reunião na América do Sul.
Próximo Texto: Editoriais: Limites ao refúgio
Índice
|