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CLÓVIS ROSSI
Fim da mudança que nem houve?
SÃO PAULO - Mudança, lembra-se? Era a palavra-chave da campanha eleitoral de Barack Obama.
Vitoriosa como foi, deu-se por assegurado que os Estados Unidos haviam
sofrido uma mudança de proporções históricas.
Parece que não é bem assim. A
formidável resistência que está encontrando o plano de cobertura de
saúde que Obama enviou ao Congresso demonstra que uma parcela
substancial dos norte-americanos
(a maioria?) continua sendo profundamente conservadora, reacionária até e impregnada de um individualismo feroz.
Tudo bem que o poderoso lobby
das empresas de seguro-saúde contribuiu fortemente para a resistência. Até aí, é uma questão de negócios: o presidente deixou claro, em
seu discurso de anteontem no Congresso, que seu projeto tapa os buracos que permitem aos planos de
saúde deixar seus segurados ao sereno, com truquinhos que os brasileiros conhecem bem.
Que os órfãos do "bushismo" reagissem com mentiras estapafúrdias, também era compreensível.
Baixaria é um componente da política, aqui como lá.
Mas que uma parte do público
comprasse mentiras e engodos indica uma invencível resistência no
tecido social norte-americano a
aceitar qualquer coisa que venha do
Estado, até o bem.
Afinal, os Estados Unidos é o país
rico que mais gasta com saúde e o
que mais pobre atendimento oferece a seus cidadãos. Ou, como disse
Obama, "nosso fracasso coletivo em
enfrentar esse desafio -ano após
ano, década após década- levou-nos a um ponto de ruptura".
Atingido esse ponto, rejeitar a
mudança em nome de defender escolhas individuais, sem que o poder
público se meta, só pode aprofundar o "fracasso coletivo". E, de quebra, destruir no percurso a promessa mais ampla de mudança, "comprada" pela maioria dos eleitores
enquanto era slogan.
crossi@uol.com.br
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