São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 2000

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CLÓVIS ROSSI
De ondas e de sapos

AMSTERDÃ - O primeiro-ministro holandês, Wim Kok, social-democrata como Fernando Henrique Cardoso se considera, disse ontem que sintonizava a "mesma onda" do presidente brasileiro.
Foi durante a saudação de praxe, no almoço que Kok ofereceu à comitiva brasileira que encerrou ontem sua visita à Holanda. Na resposta, FHC também disse que se sentia na mesma onda do holandês.
Em outras circunstâncias, seria ótimo. Mas, dado o abismo entre Brasil e Holanda, seria preferível que FHC sintonizasse uma outra onda, menos acomodatícia em relação aos problemas sociais.
Afinal, Kok também lembrou que FHC talvez tenha se surpreendido ao verificar que as distâncias na Holanda são pequenas. Inclusive a distância social entre as várias camadas de holandeses.
No Brasil, como é óbvio e como ficou implícito no discurso do premiê holandês, a brecha entre pobres e ricos é até maior do que a que separa Porto Velho de Porto Alegre.
Na Holanda, os problemas básicos estão resolvidos. Nos últimos seis anos, foram feitas algumas reformas no formidável aparato de bem-estar social, de tal forma que não se jogou fora a criança junto com a água do banho, como alguns empedernidos liberais gostariam de fazer.
A vida, para a esmagadora maioria dos holandeses, é tão sossegada que podem dar-se ao luxo de ter preocupações com os sapos.
No sul do país, muitos deles morriam ao tentar atravessar uma rodovia de um lado para o outro. Pressionado pela comunidade, o governo cuidou de construir passagens de tal forma que os sapos pudessem cruzar a estrada sem risco de serem atropelados e mortos.
No Brasil, como todos sabem, ninguém consegue evitar a pilha diária de mortes violentas. Logo, a "onda" não pode ser a mesma.


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