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CLÓVIS ROSSI
De ondas e de sapos
AMSTERDÃ - O primeiro-ministro holandês, Wim Kok, social-democrata como Fernando Henrique Cardoso
se considera, disse ontem que sintonizava a "mesma onda" do presidente
brasileiro.
Foi durante a saudação de praxe,
no almoço que Kok ofereceu à comitiva brasileira que encerrou ontem
sua visita à Holanda. Na resposta,
FHC também disse que se sentia na
mesma onda do holandês.
Em outras circunstâncias, seria ótimo. Mas, dado o abismo entre Brasil
e Holanda, seria preferível que FHC
sintonizasse uma outra onda, menos
acomodatícia em relação aos problemas sociais.
Afinal, Kok também lembrou que
FHC talvez tenha se surpreendido ao
verificar que as distâncias na Holanda são pequenas. Inclusive a distância social entre as várias camadas de
holandeses.
No Brasil, como é óbvio e como ficou implícito no discurso do premiê
holandês, a brecha entre pobres e ricos é até maior do que a que separa
Porto Velho de Porto Alegre.
Na Holanda, os problemas básicos
estão resolvidos. Nos últimos seis
anos, foram feitas algumas reformas
no formidável aparato de bem-estar
social, de tal forma que não se jogou
fora a criança junto com a água do
banho, como alguns empedernidos liberais gostariam de fazer.
A vida, para a esmagadora maioria
dos holandeses, é tão sossegada que
podem dar-se ao luxo de ter preocupações com os sapos.
No sul do país, muitos deles morriam ao tentar atravessar uma rodovia de um lado para o outro. Pressionado pela comunidade, o governo
cuidou de construir passagens de tal
forma que os sapos pudessem cruzar
a estrada sem risco de serem atropelados e mortos.
No Brasil, como todos sabem, ninguém consegue evitar a pilha diária
de mortes violentas. Logo, a "onda"
não pode ser a mesma.
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