São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 2002

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RAIO DE MANOBRA

A cotação do dólar, no sistema de câmbio flutuante, depende dos fluxos de oferta e de demanda da divisa, mas não apenas. Depende também, como é notório, das expectativas dos agentes que participam do mercado. Com a retração do crédito externo, o fluxo de dólares vem se revelando minguante já há tempos, mas não parece ter tido piora adicional nos últimos dias. Assim, a nova alta do dólar -que ontem fechou a R$ 3,99- parece se dever sobretudo a uma piora de expectativas.
As cotações do dólar no mercado futuro e no paralelo tiveram repique ainda mais forte nos últimos dias e se aproximaram bastante do preço do dólar comercial à vista. Não é bom sinal. Essas cotações vinham se situando claramente abaixo da cotação no mercado à vista. Isso era um indicativo de que preponderava a avaliação segundo a qual o preço à vista do dólar tendia a refluir. Também indicava que a compra de dólares no paralelo não era vista como boa alternativa de aplicação financeira.
A piora de expectativas pode ter diversas origens. Na alta do dólar observada ontem, especificamente, parece ter pesado a interpretação negativa de parcela do mercado quanto a declarações recentes do presidente do Banco Central. Armínio Fraga disse que há limites para o que o BC pode fazer a fim de conter a cotação do dólar. A afirmação parece ter animado alguns a reforçar suas apostas na alta da moeda norte-americana. Certamente há limites para a venda de dólares no mercado à vista pelo BC. Mas ainda há medidas administrativas que, se adotadas, limitariam o espaço para ações especulativas.
Poderia ser cogitada, por exemplo, uma elevação da parcela dos depósitos à vista e a prazo que os bancos têm que depositar no BC, mecanismo conhecido como depósito compulsório. A medida restringiria a liquidez, hoje excessiva. O impacto sobre a atividade econômica não tenderia a ser significativo, pois a oferta de crédito já se encontra inibida pela incerteza. E a sinalização de que o BC segue atento e ativo seria um trunfo valioso na batalha das expectativas.


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