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RAIO DE MANOBRA
A cotação do dólar, no sistema de câmbio flutuante, depende dos fluxos de oferta e de demanda da divisa, mas não apenas.
Depende também, como é notório,
das expectativas dos agentes que participam do mercado. Com a retração
do crédito externo, o fluxo de dólares
vem se revelando minguante já há
tempos, mas não parece ter tido piora adicional nos últimos dias. Assim,
a nova alta do dólar -que ontem fechou a R$ 3,99- parece se dever sobretudo a uma piora de expectativas.
As cotações do dólar no mercado
futuro e no paralelo tiveram repique
ainda mais forte nos últimos dias e se
aproximaram bastante do preço do
dólar comercial à vista. Não é bom
sinal. Essas cotações vinham se situando claramente abaixo da cotação
no mercado à vista. Isso era um indicativo de que preponderava a avaliação segundo a qual o preço à vista do
dólar tendia a refluir. Também indicava que a compra de dólares no paralelo não era vista como boa alternativa de aplicação financeira.
A piora de expectativas pode ter diversas origens. Na alta do dólar observada ontem, especificamente, parece ter pesado a interpretação negativa de parcela do mercado quanto a
declarações recentes do presidente
do Banco Central. Armínio Fraga
disse que há limites para o que o BC
pode fazer a fim de conter a cotação
do dólar. A afirmação parece ter animado alguns a reforçar suas apostas
na alta da moeda norte-americana.
Certamente há limites para a venda
de dólares no mercado à vista pelo
BC. Mas ainda há medidas administrativas que, se adotadas, limitariam
o espaço para ações especulativas.
Poderia ser cogitada, por exemplo,
uma elevação da parcela dos depósitos à vista e a prazo que os bancos
têm que depositar no BC, mecanismo conhecido como depósito compulsório. A medida restringiria a liquidez, hoje excessiva. O impacto
sobre a atividade econômica não tenderia a ser significativo, pois a oferta
de crédito já se encontra inibida pela
incerteza. E a sinalização de que o BC
segue atento e ativo seria um trunfo
valioso na batalha das expectativas.
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