São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2004

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ESCOLA E MERCADO

A interpretação dos dados do Censo Escolar de 2004 indica que os alunos da educação básica estão procurando fórmulas para conseguir seus certificados de conclusão o mais rapidamente possível e entrar no mercado de trabalho o quanto antes. Essa disposição aparece nas estatísticas sob a forma de diminuição no ritmo de expansão do ensino médio e de aumento da busca por cursos supletivos.
Com efeito, o aumento de matrículas no ciclo médio foi de apenas 1% em 2004 contra 4,1% em 2003. Já na educação para jovens e adultos (EJA, os cursos supletivos), o crescimento verificado nas matrículas foi de 3,9%, chegando a 18% no segmento do ensino médio. Também houve incremento na procura pelo ensino técnico, que cresceu 6,7%.
Aqui é preciso distinguir entre a formação e a titulação. Os alunos que optam por cursos supletivos tendem a estar menos interessados no aprendizado e mais nas portas profissionais que o diploma pode abrir. As duas preocupações são legítimas, e o Estado tem de procurar oferecer respostas aos dois tipos de aluno.
Os estudantes interessados no diploma em geral fazem parte de uma população um pouco mais velha, que se atrasou nos estudos. Não faz sentido vedar-lhes a chance de melhoria profissional pela falta do diploma de ensino fundamental e médio. Desde que atendam a qualificações, devem receber a titulação.
Já os interessados no aprendizado precisam ter acesso a escolas públicas de qualidade, que levem o estudante a concorrer por vagas nas universidades oficiais em condições de igualdade com os alunos das melhores escolas privadas. E a verdade é que o ensino médio como existe hoje não consegue responder a todos os tipos de demanda. É preciso, portanto, criar centros públicos de excelência para que os bons alunos da rede oficial não sejam tão prejudicados pela diferença de poder econômico. O que está em jogo é a democratização do ensino.

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